terça-feira, 11 de agosto de 2009

Witches' Ladder

Livro: Enciclopédia da Bruxaria
Autora: Doreen Valiente

O Folklore Journal em 1886 trouxe uma história sobre um achado impressionante em uma velha casa em Wellington, Somerset. Alguns construtores que estavam trabalhando na casa descobriram uma sala secreta no espaço entre o quarto de cima e o telhado. A julgar pelo conteúdo daquele buraco secreto, parecem ter chegado à conclusão de que aquele lugar era um local de encontro de Bruxas.
Seis vassouras foram encontradas lá, junto com uma antiga poltrona; talvez um assento para a pessoa que presidia as reuniões. Havia também um outro objeto muito curioso, que a princípio os descobridores não conseguiram explicar.
Ele era formado por um pedaço de corda, com cerca de um metro e meio de comprimento e um centímetro e meio de espessura. Ela era composta de três tranças, e tinha um laço em uma das pontas. Inseridas na corda, de forma cruzada, estavam várias penas. Na maioria, penas de ganso, embora algumas fossem plumas pretas de corvo ou de gralha, saindo para fora da corda em intervalos irregulares. As penas não tinham sido apenas amarradas na corda, mas pareciam ter sido fixadas entre as tranças no momento em que a corda tinha sido feita.
Algumas pessoas de mais idade de Somerset que viram essa estranha descoberta olharam para aquilo com desagrado e se mostraram reticentes quando lhes perguntaram o que era aquilo. Os trabalhadores o chamaram de uma “escada de bruxas” [Witches’ Ladder], e sugeriram que ela fosse usada para “subir até o telhado”, o que era obviamente absurdo. Uma senhora idosa, quando lhe perguntaram se ela sabia o que era aquilo, respondeu que conhecia o uso da vela com alfinetes, da cebola com alfinetes, e da corda e das penas. Ela se recusou a dizer qualquer coisa mais, mas como os feitiços de espetar uma vela ou uma cebola com alfinetes eram conhecidos como uma forma de amaldiçoar alguém, ficou evidente para os estudantes do folclore que se interessaram por essa descoberta que a escada das bruxas era um outro meio de colocar uma maldição.

Futuras investigações trouxeram à tona mais alguns detalhes. A corda e as penas tinham de ser novas, e as penas tinham que ser de um pássaro macho. Esse feitiço também não era particular de Somerset. Ele também era conhecido em outras partes do West Country, e era conhecido como uma forma perigosa e secreta de bruxaria.
Quando a cópia do Folklore Journal que apresentava uma descrição e um desenho da escada das bruxas chegou às mãos de Charles Godfrey Leland na Itália, ele investigou e descobriu que a maldição da corda e das penas era conhecida naquele país também. Entre as Bruxas italianas, ela era chamada de “la guirlanda della streghe” a guirlanda das Bruxas. Ela tinha uma forma muito semelhante, de uma corda com nós amarrados, e uma pena de galinha preta em cada um dos nós. A maldição era repetida várias vezes, conforme o nó era feito, e então o trabalho terminado era escondido na cama da vítima para trazer-lhe desgraças.
O reverendo Sabine Braing-Gould, que tinha um amplo conhecimento do folclore de West Country, introduziu o feitiço da escada das bruxas em seu romance “Curgenven”, publicado em 1893. De acordo com o seu relato, a escada de bruxa era feita de lã preta, fios brancos e marrons, entrelaçados, e a cada cinco centímetros era amarrado nessa corda um punhado de penas de galo, ou penas de faisão e galinha d’água, alternadamente. A velha avó que a fazia tecia e instigava a cada nó da escada das bruxas um tipo de dor ou sofrimento que ela desejava, para que atingissem o inimigo para quem a corda era feita. Depois ela amarrava uma pedra na ponta da corda, e mergulhava o objeto em Dozmary Pool, uma água que a lenda dizia ser assombrada. Ela acreditava que enquanto as bolhas subiam para o alto da panela, o poder da maldição era liberado para realizar seu trabalho.
É um tributo incrível à natureza disseminada das práticas secretas das Bruxas que praticamente o mesmo objeto fosse conhecido e usado em lugares tão distantes como Somerset e a Itália, por pessoas que naqueles dias não eram suficientemente alfabetizadas a ponto de aprenderem as coisas em livros; mesmo que qualquer descrição do feitiço tivesse sido publicada em algum lugar antes, o que, levando em conta o ponto de vista confuso dos folcloristas mais importantes que foram confrontados com essa descoberta, parece ser muito improvável.
Podemos observar que o número três mágico aparece na fabricação do feitiço, fato que é muito comum. Ela tem que ser uma corda tripla em que as penas são amarradas. As próprias penas são possivelmente símbolos do envio do feitiço voando de forma invisível em direção à pessoa intencionada.#

(Autoria de Nádia Bertolazzi)

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