segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A Estaca Bifurcada.

Autores: Evan John Jones e Doreen Valiente
Livro: Feitiçaria, a Tradição Renovada

Talvez seja mais correto dizer “as estacas", pois existe mais de um tipo desse instrumento. Há a estaca individual, a do coven e as estaca de abrunheiro [ameixeira-brava], utilizada para amaldiçoar ao inimigos do clã, do coven ou do grupo. A estaca do coven e a de abrunheiro em seus diferentes aspectos, atributos e usos serão tratadas no capítulo referente aos símbolos do coven, embora vários atributos sejam comuns a ambas.
Como acontece com muitos instrumentos da Arte, as origens da estaca perdem-se nas brumas do tempo e da história. As poucas alusões que temos do seu uso nos primeiros tempos nada mais são do que especulações e conjecturas, como as que encontramos no livro de Alfred Watkins, “The Old Straight Track”. Diz-se que o seu “Men-of-the-Leys” ou “Dodmen”, com suas varinhas de adivinhação em forquilha, possuem um ancestral comum com as feiticeiras.É teoria impossível de ser ou não comprovada, embora haja possibilidade, à luz da tradição, de ligação das feiticeiras com as estradas antigas, em particular com as encruzilhadas, um dos lugares de encontros. Na verdade, a lenda reza que muitas feiticeiras foram queimadas nas encruzilhadas.
Um dos poucos fatos de que temos certeza é que a vara em forquilha é peculiar à Arte. Como exemplo, lembro-me de uma visita que fizemos a Stonehenge. Tínhamos visitado Salisbury Plain e decidimos ir até Stonehenge. Na ocasião eu era o único do grupo que tinha levado a minha estaca, e a estava usando como cajado para apoio. No caixa da saída, ouvimos um dos atendentes dizer para o outro: “Ele é um bruxo. Aquilo que está segurando é uma estaca dos bruxos.” Um caso claro de reconhecimento por identificação_ a estaca em forquilha foi a marca registrada.
Qual a função, no nível pessoal, exercida pela estaca? Ela é um emblema da fé, do pertencimento à fé e de sua aceitação, bem como de tudo o que está a ela ligado.
Serve como um “altar” pessoal e como um cajado, para ir e voltar dos encontros, e como símbolo ou sinal de que aquela pessoa pertenceà Arte. A mais importante é, naturalmente, a função de altar.
Nesse conceito a estaca representa o Deus-Rei Divino das clareiras, o Deus da caça e da fertilidade. Também nesse conceito de totem está incluído o ritual do sacrifício do Rei-Sacerdote Divino nos rituais da Véspera de Maio, para libertar o espírito do verão; por exemplo, a libertação do Jack-in-the-Green, simbolizado por um arbusto que dança e que é empurrado sobre ele para “matá-lo”. No aspecto do Deus-Árvore é o Rei-Carvalho santificado servido pelo Robin Goodfellow ou Robin Hood, junto com Marion e os outros onze, formando um coven completo de treze membros. Simboliza também a Criança-consorte Cornuda da Deusa sob a forma de Diana das Florestas, a Diana Nemorensia. Sob esse enfoque, o dono da estaca-altar torna-se, num sentido, descendente do guardião rei-sacerdote da árvore sagrada do bosque de Diana, em Nemi.
Como uma ferramenta individual de trabalho, o uso da estaca pode ser simples ou complexo, dependeno da escolha que se fizer. Uma dupla, unindo-se para trabalhar fora das reuniões principais do coven, deve colocar como altar uma estaca. Isto pode ser feito de duas maneiras e, mais uma vez, ser ato simples ou elaborado. No primeiro caso, que é o mais aconselhável para trabalhos externos ou, se houver espaço, para trabalhos internos, a estaca é colocada como altar no centro de um círculo.
Independente de o ritual ser realizado ao ar livre ou dentro de algum ambiente, utiliza-se um círculo com nove pés (2,75m), e seu traçado é ligeiramente modificado pela ausência da vassoura. O fechamento do círculo é feito pelo lado de dentro, traçando-se uma linha que o cruza. Se o ritual estiver sendo realizado dentro de um ambiente, a estaca pode ser fincada num balde de areia, e o círculo, traçado com faca, de maneira simbólica. Para os que possuam espaço que pretendam usar com freqüência, o melhor é utilizar um pedaço de lona com um círculo pintado em branco [péssima condutora de energia mágica. Um tecido natural seria melhor.]
Quando a estaca é fincada no centro, acende-se uma pequena vela no meio da forquilha ou entre os garfos. Os bolos e vinho são consagrados da maneira usual, e a Dança do Moinho, realizada deosil ou widdershins, dependendo do propósito para o qual o ritual está sendo trabalhado.
Nesse estágio, devemos considerar a questão do trabalho realizado com os corpos desnudos. Mais uma vez, trata-se de decisão das pessoas envolvidas. Há uma tradição de trabalhar com os corpos desnudos e também boas razões mágicas para isso. Enquanto prática de ambiente fechado, há muito o que ser considerado. Por outro lado, a entrada nos quarenta e algumas gordurinhas localizadas, bem como pelancas, são boas razões para evitá-la. A escolha de trabalhar desnudo deve ser tomada pelas pessoas que irão trabalhar juntas. Ninguém deve ser forçado a fazê-lo contra a sua vontade.
No caso de uma dupla trabalhando, com espaço suficiente para colocar uma estaca dentro do círculo, ou no caso de um indivíduo trabalhando sozinho, os objetivos e os métodos são diferentes dos estabelecidos para o ritual do círculo. É mais ato cerimonial do que ritual de trabalho prático. Algumas pessoas acham que uma vez por mês é o ideal, enquanto outras preferem encontrar-se a cada mudança de fase da Lua e vão ao ponto de manter um calendário especial para celebrar todo o ano sinódico. Sem nos aprofundarmos até esse ponto, é muito agradável trabalhar segundo uma ritualística, de acordo com a nossa vontade ou do nosso companheiro, fora dos ritos usuais. Nos ritos cerimoniais, a estaca, com o auxílio de um balde de areia, é colocada numa área limpa. Próximo dela deve haver uma mesa; se houver pouco espaço, uma mesa pequena é ideal. Nela deverá haver candelabros e velas, um pequeno pote cheio de areia com varetas de incenso fincadas, um copo e uma garrafa de vinho. No caso de uma dupla masculino-feminina, os dois elementos podendo consagrar os bolos e o vinho, também deverá haver sobre a mesa os bolos e a faca para realizar a consagração da maneira usual.
A pessoa podendo trabalhar sozinha e não podendo consagrá-los, deverá acender a ou as velas e as varetas de incenso e realizar um ritual particular. Quando chegar ao momento de colocar o vinho, deve encher o copo, elevá-lo e, ao mesmo tempo, dizer:

“Minha Senhora... Deusa da Noite... oro para que me vejas e me ouças... Pois o que fiz foi em tuda honra e em teu nome... Oro para que aceites esse ato de adoração, embora solitário... E oro para que me sejam concedidos a paz interior e o conhecimento que é a marca dos seus seguidores... Por meio desse conhecimento... obter sabedoria para aceitar a vida como ela é e vivê-la em amor pelo que és... Pois o meu espírito buscador encontra a paz no serviço a ti... Eu esvazio esse copo em nome da Nossa Senhora e em memória dos que conheci... Que possam eles partilhar do que sinto nesse momento... Assim, oro em nome da Nossa Senhora.”

[Apenas pra lembrar, a “Nossa Senhora” citada é a Senhora da Lua, e não se deve confundi-la com a cristã. “Sinta o que eu sinto” também é uma antiga forma de maldição, se a pessoa que diz a frase estiver se sentindo muito mal. Minha avó já amaldiçoou alguém desse jeito. Um bispo, aliás. Até eu já usei isso.]
O copo é esvaziado, e a cerimônia termina.
Um ponto que deve ser notado é que a estaca usada como altar pessoal nunca é enfeitada, como a utilizada pelo coven. Se a pessoa sentir necessidade de colocar flores no altar, deverá ser como um buquê ou uma única rosa, como a lembrança da Rosa-Além-do-Túmulo, e vista como símbolo da imortalidade.
“Busca e encontrarás” resume perfeitamente o trabalho necessário para obter uma boa estaca de freixo [700 anos atrás, a minha era de carvalho. Era tradicional, apesar de ilegal cortar carvalho na Irlanda. Provavelmente foi por isso que substituíram pelo freixo. Essa substituição aponta para uma possível origem irlandesa dos conhecimentos de Robert Cochrane.]. Os lugares onde ainda existem matas são poucos e distantes, mas, quando você encontrar a estaca, o reconhecimento de que é sua é imediato. Você sentirá na mão. Um ligeiro formigamento nos dedos confirmará que é a sua, e somente sua. Reza a tradição que deverá ser cortada no período da Lua Cheia com a sua própria faca. Como a maioria das florestas que possuem freixos fica afastada das cidades, as pessoas costumam cortar a sua estaca durante o dia. Entretanto, existe um ritual que nunca deverá ser negligenciado, embora seja simples. Quando alguma coisa é tomada, alguma coisa deve ser deixada. Quando retirar a sua estaca, deixe uma moedinha em pagamento.
O próximo passo que deve ser observado é a consagração da estaca. Como acontece com todos os instrumentos pessoais, a consagração da estaca é realizada em nome dos quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Mas, antes disso, ela deve ser calçada com ferro. Isto é feito cravando-se um prego na sua extremidade. Como o mesmo deve ser realizado com a estaca do coven, as razões serão apresentadas mais tarde, no capítulo referente aos símbolos do coven. [É pro poder não escorrer pro chão. Esse não era nosso costume há 700 anos, na Irlanda, e também não se faz isso na Escócia, e na Itália também não se usa. Não calçamos com ferro porque a estaca deve servir pra puxar a energia da Terra pra cima e, se pusermos ferro, a estaca vai ficar “entupida” e não vai puxar nada.]
Quanto ao ritual de consagração, ele é geralmente realizado pelo próprio dono e ao ar livre. Resumindo: primeiro, a estaca é passada pelo fogo para ser purificada, e, em seguida, aspergida com água. Depois, é fincada no elemento terra. Em seguida é soprada três vezes [o maucht é soprado junto com o ar], e, finalmente, o dono passa seu cordão [iniciático] pelo pulso e por ela enquanto invoca a Deusa na sua face Mãe: “...para impregnar essa estaca com parte dos seus poderes a fim de torná-la verdadeiramente um instrumento mágico.”
Uma vez purificada e consagrada, nunca mais deverá ser vista como um simples pedaço de madeira. É objeto de trabalho magicamente impregnado, altar, representação do Deus Cornudo. Em certo aspecto, adquire o mesmo significado ritual da Árvore Sagrada no bosque de Diana, e, até certo ponto, o dono passa a ter as obrigações do sacerdote-rei do bosque sagrado e de servidor do Deus Cornudo e da própria Deusa.

As estacas do Coven
Livro: Feitiçaria, a Tradição Renovada
Autores: Evan John Jones e Doreen Valiente.

Mais uma vez devemos lembrar que, diferentes dos outros símbolos do coven, a estaca e a faca atendem a dois níveis dentro de um grupo de trabalho. A estaca e a faca pessoais partilham dos mesmos atributos dos objetos do coven, a única diferença sendo que a estaca e a faca do coven desempenham papel mais formal dentro dos rituais.
Outro aspecto a ser considerado é o uso do plural "estacas" nesse subtítulo. Tradicionalmente, a estaca de freixo é o esteio dos trabalhos comuns no círculo. Em ocasiões muito raras, em que é preciso defender o coven ou um de seus membros contra ataque exterior, traz-se para o círculo uma estaca de abrunheiro.
Como se trata de madeira de maus presságios, a única utilização da estaca de abrunheiro dá-se no ritual solene de alguma maldição formal. Nesse ato, ela representa o Deus de Duas Faces. Da mesma origem sai o poder, que pode ser usado tanto para o mal como para o bem; por isso raramente deve ser invocada ou trabalhada. Em vinte anos de prática ocultista, somente uma vez participei de uma maldição formal. Foi, aliás, inteiramente merecida, mas posso dizer que os sentimentos que gerou foram os mais desagradáveis, para classificá-los da forma mais suave possível. A maldição formal é uma das armas do arsenal da fé, mas raramente deve ser usada, mesmo para defesa pessoal.
Como disse anteriormente, a estaca de freixo como conceito é uma representação do Rei-Deus das clareiras e também do espírito reencarnado do Velho Rei no jovem Menino-Deus da Mãe, em seu aspecto de Diana das Florestas. Para o coven, a estaca de freixo é o guardião da entrada do círculo, o elo entre o mundo da Deusa e o mundo do círculo. Um de seus aspectos é o de Herne, o caçador, como deus da caça e da fertilidade. Sob essa forma, é ele quem conduz a Caçada Selvagem em Candlemas. Cavalgando a Égua da Noite, com os Cães do Inferno [em Gales, Cwn Annwn, Cães de Annwn] acompanhando, ele busca as almas dos mortos para conduzi-las ao submundo.
As proximidades do Grande Carvalho no Parque de Windsor têm a reputação de serem habitadas pelo espectro de Herne na época de Candlemas. A ligação de Herne com o carvalho é encontrada nos conceitos de Rei Carvalho e Senhor das Matas. O poderoso carvalho, guardião do portal, ou o freixo sagrado, símbolo do nascimento e do renascimento, colocado fora do círculo, preside os trabalhos na posição ao norte. Movendo a posição da estaca, ela preside a festa realizada após o ritual. Essa posição da estaca em relação à festa confirma o aspecto da Criança com Chifres e a Mãe, representada pela Senhora do Sul. É o filho presidindo a festa em honra à Deusa.
Para os quatro trabalhos principais, a estaca do coven é enfeitada com flechas e guirlandas. Também as flechas simbolizam a dualidade do conceito do Deus Cornudo. São uma lembrança do Deus da Caça e também da noção de que uma das várias faces da Deusa é a de Divina Caçadora. Ao prender as flechas cruzadas com as pontas para cima, estamosnos lembrando desses antigos conceitos.
Fixamos a guirlanda, amarrando-a com arame nas flechas cruzadas. O tipo da guirlanda depende daquilo a que se destina o ritual. Começando com Candlemas, a estaca deverá ser enfeitada com ramos de teixo. Como árvore de lamentação, o teixo simboliza a morte do ano velho. Como Candlemas é, na verdade, o início do ano ritualístico [eles só celebram Candlemas, Beltane, Lammas e Samhain. Há 700 anos, na Irlanda, a gente celebrava os oito. A França Medieval também celebrava os oito.], o teixo comemora a passagem final do ano que se foi. Se houver qualquer dificuldade de obter os ramos, a estaca é montada só com as flechas, sem flores. Uma estaca sem flores representa a paisagem nessa época do ano. As árvores estão despidas, sem folhas, os campos vazios. Mas, se olharmos mais de perto, os sinais da nova vida estão lá, na natureza. Isto é o ritual de Candlemas: a semente da inspiração, plantada, o fogo da vida, aceso.
No ritual da Véspera de Maio, a estaca deve ser enfeitada com uma mistura de ramos de bétula, aveleira, salgueiro e espinheiro. A bétula está ligada à felicidade e é considerada feminina, árvore do renascimento. A aveleira está associada a fertilidade, fogo, poesia, adivinhação e conhecimento. Finalmente, tanto o salgueiro como o espinheiro são geralmente reconhecidos como árvores de má sorte e lamentação, mas no 1o. de Maio os ramos dos dois são considerados de bom augúrio, desde que não sejam trazidos para dentro de casa.
O Festival da Colheita [Lammas] é, naturalmente, época de congraçamento por tudo o que o ano trouxe para o coven. É o momento de colher a semente plantada em Candlemas, por isso a guirlanda mais apropriada é feita de hastes de cereais. Os grãos colhidos simbolizam o espírito e a tradição do coven nos últimos meses. O período de tempo entre o Festival da Colheita e a Véspera de Todos os Santos [Argh, nome mais cristão!] é a época para reflexão sobre o que o passado significou para o indivíduo e também quanto às lições aprendidas dentro do grupo.
A Véspera de Todos os Santos é o momento da morte. Como esse ritual difere de todos os outros, pelo uso de círculos gêmeos, devemos lembrar que a parte principal é realizada no segundo círculo. Se a estaca for enfeitada, deve ser com teixo. (Eu prefiro somente as flechas cruzadas, sem a guirlanda, para esse ritual, mas essa é uma visão pessoal. Mais uma vez, cabe aos membros envolvidos decidirem o que preferem.) [O teixo tem o poder de convocar os mortos.] Como se trata de época de recordações e lamentações, também simboliza a passagem de um mundo para outro; a estaca e a guirlanda não pertencem ao círculo onde o trabalho será realizado. Pergunta que sempre surge é: por que tantas diferenças nas guirlandas? Simplesmente porque elas são símbolos físicos dos conceitos da fé, insígnias que nos lembram para que estamos trabalhando em cada um dos rituais. São como as cinzas simbólicas dos ramos ofertados no Natal [Argh. Por que não chamar deYule?] para dar boa sorte e que são queimados durante o Natal do ano seguinte. (Estes símbolos são uma parte diminuta de linguagem e de tradição muito complexas em relação às árvores. É assunto digno de estudo mais aprofundado, que não foi incluído nesse livro pela complexidade e também por não ser um dos nossos objetivos, embora haja pequena relação das árvores no Apêndice.) Novamente é preciso ficar claro que o uso dessas madeiras não é obrigatório. Além disso, não são todas as pessoas que as obtêm. Se lhe for possível, será ótimo. Caso contrário, outras madeiras servirão. É o conceito que importa, e não os símbolos. [Descobri que essas madeiras foram todas aclimatadas no Brasil, e que são relativamente fáceis de serem achadas em São Paulo.]
O abrunheiro, sendo árvore agourenta, quando utilizado como estaca serve para o lado escuro da Arte. De alguma maneira ela repreenta uma cabeça com duas faces: uma, a do bem, e a outra, a do mal [Isso me lembra quando os quatro Senhores vão ao Reino dos Mortos em busca do Sol, Janus, que havia sumido da Terra e se deparam com ele sentado no trono como Rei dos Mortos. Ele diz: “Agora vocês realmente viram minhas duas faces.” Stregheria.] O poder é neutro. A finalidade para a qual é trabalhado é o que importa. No caso da estaca de abrunheiro usada como altar, o uso do poder que é despertado destina-se ao mal. Mais uma vez devemos enfatizar que esse assunto deve ser levado a sério. A única razão para ser usado é a ausência de qualquer coisa que possa substituí-lo.
Por exemplo, se alguém estacionar diante da sua saída de garagem, é melhor bater-lhe do que lançar-lhe alguma maldição [Vai bater em alguém só por isso?! Agora me achei “zen”. Como eu luto kung-fu, sei o tamanho do estrago que posso fazer em alguém, e isso me torna extremamente tolerante.] . Por meio da utilzação do ritual de amaldiçoamento, o grupo envolvido pode, com freqüência, perder um ano inteiro de trabalho. Os sentimentos e as emoções que surgem durante o ato transformam bastante a atmosfera do grupo. As pessoas tendem a evitar-se. Não se abrem mais durante os encontros. Uma vez ativado o lado escuro das pessoas, é difícil subjugá-lo novamente. [Aceite-se como é. Apenas isso.]
Então, por que incluir o ato de amaldiçoar em primeiro lugar? Assim como a vida não é somente doçura e luz, a fé também não. A capacidade de realizar uma vingança mágica contra os inimigos do coven é parte intrínseca da Arte, e os porquês a respeito desse poder devem ser compreendidos por quem pratica os rituais. Outra coisa a ser notada é que a estaca nunca é enfeitada para um ritual de amaldiçoamento.
Pelos perigos inerentes ao ritual de amaldiçomento, esse trabalho não será mencionado. É conhecido por todos os grupos dentro do clã e lá permanecerá. Sua divulgação poderia despertar a tentação de usá-lo sem haver a compreensão total dos valores morais envolvidos na decisão de praticá-lo. Em vinte anos, recorri a ele somente uma vez e sinto que, se tiver de usá-lo, nos próximos vinte anos será ainda muito cedo. Quem desejar incluir um ritual formal de amaldiçoamento terá de descobrir o seu próprio caminho [ao contrário do “Amaldiçoamento Formal”, a “Maldição da Luz Espelhada”, por sua vez, é uma maldição que pode ser facilmente encontrada. Yes, nos temos maldições.]. Somente a pesquisa dos conceitos e mecanismos inerentes ao processo de um amaldiçoamento poderá levar à compreensão total dos perigos inerentes a um trabalho com esse tipo de ritual.
Na criação da estaca do coven, pelos vários aspectos formais e cerimoniais envolvidos, a forma é diferente daquela da estaca pessoal. Freqüentemente, a pessoal é uma forquilha de freixo. Pela tradição, a estaca do coven é de abrunheiro [aqui eu não sei se a confusão foi os autores ou da tradutora. Estamos falando de três estacas: a pessoal, a do coven, e a de amaldiçoamento do coven. Só a de amaldiçoamento é de abrunheiro.], montada sobre a cabeça de um forcado ou de um par oco de chifres de ferro. Dependendo do espírito totêmico do animal guerdião adotado pelo grupo, coven ou clã, a máscara desse animal será fixada na base dos dois dentes. Isto cria o símbolo do jovem Deus Cornudo sob o aspecto de espírito-guardião do coven. [Uma estaca bifurcada, sem cabeça, é mais usada como estaca de coven. A que vi com cabeça era parecida com o cetro do Esqueleto, do desenho do He-man. E não tinha ferro nenhum. Até o caldeirão, era preferível que fosse de bronze. Quanto menos ferro, melhor.] Primitivo, talvez, mas, como sinal de identificação, age diretamente como chave para todos os conceitos envolvidos nos trabalhos do clã.
A máscara da cabeça do carneiro, montada abaixo dos dentes da estaca do nosso coven, não necessita de explicações. Todos no clã sabem o que significa e qual a sua razão de ser [veja o “Carneiro Real”, no tópico “Crânios na Bruxaria”.]. O mesmo pode ser dito quanto à estaca de abrunheiro. A pequena máscara de veado, montada logo abaixo dos dentes, é a chave para o conceito de Herne, o caçador, e seus cães de caça, conceito ligado à maldição.
Ao colocar a máscara do animal na estaca, estamos voltando à pré-história e ao espírito guradião ou totem do grupo. Dizer, por exemplo, “Eu pertenço ao clã do cabrito montês”, significa envolvimento mais pessoal com seu coven ou grupo do que simplesmente mencionar: “Eu sou membro de um coven.” Dessa forma, o espírito do coven pode ser ampliado e aumentado para formar o espírito do clã.

Calçando com Ferro

Como deve ter sido notado, tanto a estaca pessoal, como a do coven devem ser calçadas com ferro após a consagração. Por trás disso há uma longa história de teoria mágica. A ligação da arte da ferraria com as varas mágicas repousa na maneira mágica e pouco compreendida por meio da qual as pedras podiam ser tratadas com fogo para serem transformadas em ferro. Outro uso do fogo permitiria a esse elemento ser moldado em todo tipo de coisas. O ferreiro possuía a capacidade e o conhecimento para realizar essa tarefa. Como acontece com a maioria dos comércios secretos, dizia-se que este tinha uma origem divina, revelada somente a algumas pessoas selecionadas após longo serviço prestado a um mestre_ um tipo de antiga “loja fechada”. [Veja também, sobre ferreiros, o tópico “A Dança Espiral e o Deus Aleijado”.]
Na teoria, o ferro não-natural era capaz de neutralizar a magia natural de um encanto. Seguindo essa linha de pensamento, surgiu a idéia de que uma bruxa não podia atravessar o ferro. Como uma bateria, a estaca é carregada ou impregnada de poder mágico no ato da consagração. Como esse poder não pode atravessar o ferro, ao calçar a estaca com esse elemento, o poder não mais escaparia para a terra, permanecendo no corpo da estaca. Ao fixar o prego na extremidade da estaca após a consagração, retemos no corpo da mesma o poder mágico da Deusa, tornando-a um verdadeiro altar da sua criação.

[Aqui termina o texto de E.J.J. e Doreen Valiente.]

Temos um pequeno problema aí. Temos uma tradição que afirma que “ferro neutraliza ou bloqueia a magia”. E temos nossos athames e espadas, que são feitos de quê? Ferro, né? Isso são tradições mágicas cruzadas de povos diferentes. Uma, do fim da Idade do Bronze e começo da Idade do Ferro, que abomina o ferro trazido pelos invasores. E outra, que usa o ferro e considera os ferreiros mágicos. O conjunto dos Nove Instrumentos Rituais, vale lembrar, é de origem mitraica. Não sei quando entrou na Irlanda, mas já era usado pelos Bruxos irlandeses no fim do século XIII.


(Autoria de Nádia Bertolazzi! Mais uma vez, obrigado Nádia ^_^)

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