quarta-feira, 19 de agosto de 2009

domingo, 16 de agosto de 2009

Maypole

O Maypole é de origem romana, era feito pra homenagear a Deusa Flora e foi levado pelos romanos às Ilhas Britânicas. O Maypole é um mastro de bétula (árvore da fertilidade), coroado com uma guirlanda de flores e, pendendo dessa guirlanda, há fitas vermelhas e brancas. As mulheres então pegam as fitas vermelhas, e ficam todas de um lado. Os homens pegam as fitas brancas, e ficam todos do outro lado, olhando pra cara das mulheres. Então, homens e mulheres começam a caminhar em direções opostas, ao encontro um do outro, entrelaçando suas fitas.

Aí você diz "Ai, que chato, fica mais legal quando é com várias cores diferentes." Mas espere até eu explicar o motivo.

As fitas vermelhas das mulheres representam o sangue menstrual. As fitas brancas dos homens representam o sêmen. Quando se junta sangue menstrual e sêmen, obtém-se o que os ocultistas chamam de "Ouro Rubro", de grandes propriedades mágicas. Esse é o significado do Maypole: um Ouro Rubro coletivo. Simbolicamente, é uma grande suruba. De fitinhas. ^_^

(Autoria de Nádia Bertolazzi)


quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Charge of the Goddess

Nem precisa de comentários ;)

Dança Espiral e o Deus Aleijado


Autora: Doreen Valiente
Livro: Enciclopédia da Bruxaria

Um terceiro tipo de dança das Bruxas é uma espiral, que é dançada entrando e saindo do círculo. Isso simboliza a entrada nos mistérios do Outro Mundo. Ela é às vezs chamada de “Cidade de Tróia”, em homenagem ao antigo padrão dos labirintos, que supostamente eram criados para lembrar os muros de Tróia. A Inglaterra tem um grande número de labirintos de sebes e cercas-vivas espalhados pelo interior do país, sendo que a maioria deles é de data desconhecida, mas que certamente é muito antiga. Os labirintos estão relacionados com os antigos Mistérios Britânicos. A morada dos heróis mortos e do Caldeirão da Inspiração foi chamada de Castelo Espiral, pelos antigos bardos.

Autor: Raven Grimassi
Livro: Enciclopédia de Wicca e Bruxaria

A Dança Espiral é uma dança cerimonial na qual um número de pessoas se junta, formando uma espiral viva que se contrai e se expande. Tradicionalmente, uma mulher e um homem, que representam a Deusa e o Deus Aleijado, conduzem a dança. 
O homem arrasta sem firmeza um dos pés como se ele personificasse o seu personagem. O Deus Aleijado é uma figura curiosa conectada com os antigos Deuses do martelo e com as figuras míticas dos ferreiros.
Conforme a dança começa, os movimentos dos dançarinos são conduzidos widdershins, em espiral interna, símbolo da jornada de uma alma em direção ao Mundo Inferior, onde o aspecto sombrio da Grande Deusa está à espera. Uma vez encontrada, a Deusa é vista em seu aspect iluminado, no qual ela renova a vida. Os dançarinos são, em seguida, conduzidos para fora em uma espiral deosil. A Espiral externa representa o retorno da vida, vinda da espiral do Mundo Inferior. Aqui, a espiral é o símbolo da reencarnação.
Na Tradição Céltica, a Dança espiral é associada à Deusa Arianrhod.

Deus Aleijado: é um conceito muito antigo datando da remota era dos caçadores-coletores. Em épocas antigas, um caçador tinha que chegar muito perto do animal a fim de matá-lo com suas armas primitivas, como uma clava ou uma lança. O caçador mais bravo era altamente estimado pela tribo. Isso permitia a eles um grau de elevação, mesmo dentro das antigas sociedades matrifocais que dominavam a religião tribal e a posição social.De vez em quando, essa pessoa recebia um ferimento permanente, normalmente em uma perna ou no quadril, devido a ser espetado pelos chifres de um animal. Não sendo mais capaz de caçar, ele permanecia no vilarejo com as mulheres. Ele era recolhido pelas mulheres xamãs e era ensinado em alguns de seus mistérios. Ele também participava em alguns rituais do clã, servindo como modelo para um Alto Sacerdote da Velha Religião. Seu principal símbolo era o cajado que o auxiliava em sua mobilidade.O próprio cajado era um antigo símbolo da Árvore Sagrada. Nessa época, a conexão elevava o caçador aleijado ao sacerdócio, [o Deus ficava dentro do galho do cajado, como um fogo latente, e, portanto, aquele que portava o cajado agia como seu representante] onde ele também conservava o símbolo do animal de chifres que ele caçou outrora. Livre de suas obrigações de caçar, o homem aleijado passava a maior parte de seu tempo estudando as poções herbais e as técnicas mágicas das xamanesas. Nessa época, ele combinava-os com os mistérios únicos de sua própria natureza [Mistérios Masculinos], juntamente com o seu conhecimento do reino animal [Animal de Poder] e se tornava um feiticeiro por seus próprios méritos. 

O mito do Deus Aleijado foi preservado na Mitologia Grega, onde encontramos o Deus Hefestos lançado do Monte Olimpo por Zeus. Hefestos sofreu uma quebra na perna que nunca curou completamente e ficou conhecido como o Deus Aleijado. Hefestos, naturalmente, era Deus do fogo e da forja, símbolos do ferreiro. A figura do Deus Aleijado também aparece na Europa setentrional, no conto do ferreiro Wayaland.


(Autoria de Nádia Bertolazzi)

Os Quatro Airts


Autora: Doreen Valiente
Livro: Enciclopédia da Bruxaria

Airt é um antigo termo gaélico para as quatro pontas da bússola, Norte, Sul, Leste e Oeste. Elas são muito importantes na magia, porque o círculo mágico deve ser sempre orientado por elas. As primeiras igrejas cristãs também eram cuidadosamente orientadas, com o altar principal sempre no leste, embora nos dias atuais esse costume não seja invariavelmente observado, provavelmente devido à atual falta de espaço que leva os arquitetos das igrejas a construírem seus prédios da melhor maneira possível no terreno disponível.
O círculo mágico geralmente tem uma vela ou um abajur [Argh, me poupe! Talvez ela tenha querido dizer “lamparina”, que é mais decente.] em cada um dos quatro cantos. Os poderes dos Quatro Elementos estão naturalmente conectados com as Quatro Airts. Diferentes tradições da magia possuem atribuições distintas, porém a mais comum na tradição mágica ocidental é o Ar a Leste, Fogo ao Sul, Água a Oeste e Terra ao Norte. [Eu aprendi que os Elementos seguem os signos que estiverem nos Quadrantes.] 
Essa atribuição está baseada na qualidade dos ventos prevalecentes. Na Grã-Bretanha, o vento do Sul traz calor e aridez, enquanto o vento do Oeste normalmente traz tempo chuvoso e quente. Portanto, esses cantos são considerados como os lugares do fogo e da água respectivamente. O vento do Leste é frio, seco e revigorante, por isso esse é o lugar dos poderes do ar. O vento do Norte é frio e congelante, vindo do lugar onde neva o tempo todo. Ele representa a escuridão da Terra.
Em outras partes do mundo, naturalmente, essas condições não são aplicáveis; por isso, o mago verdadeiramente talentoso, diferentemente daquele que meramente leu sobre o assunto em livros, irá observar os ventos prevalecentes de seu próprio país, e irá invovar os Quatro Elementos de maneira apropriada.
Os Airts gaélicos tinham uma associação tradicional de cores atribuída a eles. O Leste assumia o carmim da madrugada; o Sul, a luz branca da Lua Cheia; o Leste, o tom marrom-acinzentado do crepúsculo [simplificando: cinza. Em Gaélico, Liath.], e o Norte, o preto da meia-noite. É notável, relacionado a isso, que a canção “Espíritos Negros” referida na peça de Shakespeare MacBeth não tenha sido escrita por ele, mas apareça em uma outra peça, The Witch, de Middleton, e pode muito bem ter sido uma antiga cantiga popular. Ela diz o seguinte:
“Espíritos brancos e negros,
Espíritos vermelhos e cinzas,
Misturem-se, misturem-se, misturem-se,
Vocês que podem misturar-se!

Firedrake, Pucky,
Tragam sorte.
Liard, Robin, 
Vocês devem sacudir-se.

Girem, rodopiem, rodopiem,
Subam, subam!
Todo o mal adentre-se,
Todo o bem afaste-se.”

Na realidade, a canção está invocando os espíritos dos quatro pontos cardeais, por meio das cores dos antigos Airts gaélicos, e era assim singularmente apropriado para as Bruxas escocesas que Shakespeare estava descrevendo. Firedrake, Pucky, Liard e Robin eram os nomes dos familiares das Bruxas. Uma versão atual das Bruxas diz o seguinte:

“Espíritos brancos e negros, 
Espíritos vermelhos e cinzas, 
Venham até nós, venham até nós, 
Venham vocês que podem vir!

Girem e rodopiem,
Para cima e para os lados,
Que o bem adentre-se
E o mal afaste-se.”

[Ainda acho que 

“Black spirits and white, red spirits and gray,
Mingle, mingle, mingle, you that mingle may.”

Tem mais ritmo.]

As idéias mágicas de dançar ou de circundar deaseil ou tuathal estão ligadas aos Quatro Airts. Deaseil, ou na direção dos ponteiros do relógio, é um movimento afortunado, e por isso cheio de bênçãos; mas tuathal, o movimento anti-horário, é geralmente usado para a magia adversa ou maldição. Esses nomes vêm das palavras escocesas gaélicas equivalentes ao pontos cardeais: Tuath (Norte), Airt (Leste), Deas (Sul) e Iar (Oeste). Airt era o ponto de partida das invocações; por isso, girava-se para a direita chegando ao Deas, ou para a esquerda, literalmente o lado sinistro, até o Tuath.

Sacrifícios

Minha postagem vai ser enorme, peguem um cafezinho ou chá e relaxem. rs

Falando por mim, ou seja, opinião pessoal e intransferível, sem imposições ou desejo de que concordem comigo digo:

Os sacrifícios de qualquer espécie, pra mim, são práticas válidas, fundamentadas e muitas vezes necessárias aos mais diferentes ritos. Só que, tais ritos não fazem parte da liturgia da Wicca, logo, para esta religião e dentro do seu corpo de crenças os sacrifícios são desnecessários e não devem ser praticados - mesmo que o sacerdote concorde e veja lógica na prática, pois é uma regra baseada nas crenças da religião que o sacrifício de sangue não é necessário, talvez fosse nas eras primitivas, mas, dentro do pensamento religioso wiccano não é mais necessário. Ponto passivo.

Uma coisa é não praticar ou ver necessidade de tal ato de acordo com nossas crenças pessoais, outra coisa é impor ou ofender de alguma forma as pessoas de outras crenças só porque para nós não faz sentido. E isso vale para quem concorda e para quem discorda das práticas de sacrifícios de sangue.

Precisamos aceitar que cada pessoa, independente de suas religiões ou crenças, enxerga o ciclo de vida, morte e renascimento de uma forma, cada pessoa tem o direito de possuir valores morais e culturais diferentes. Quando o assunto é sacrifício várias coisas estão intimamente ligadas para a aceitação dessas práticas e na grande maioria das vezes o que nos faz concordar ou não com tais atos sequer tem relação com o entendimento religioso e funcional que temos deles, mas normalmente, o que interfere em nossas opiniões são nossa criação e cultura, que nos impõe valores diferenciados em relação ao ato levar à morte e o que ele representa em nosso íntimo.

Eu posso parecer soberba, malvada, egoísta entre outras coisas para alguns pelo simples fato de acreditar e vivenciar, ou seja, saber que sou capaz de criar e destruir e que tal capacidade, em minha opinião, quando controlada e utilizada dentro de minhas convicções religiosas é a maneira que possuo de me elevar espiritualmente e exaltar minha divindade como parte viva e necessária deste universo.

Para mim e dentro de minhas crenças usar uma planta ou um animal num rito é a mesma coisa, não tenho patamares de valor entre a vida de um animal e de uma planta, isso, claro, considerando-se o uso da planta em sua totalidade. Mas, assim como é raro eu precisar matar uma planta inteira, também é raro eu precisar matar um animal. Porém isso não muda o fato de que quando eu retiro partes das plantas para queimar, triturar ou enfeitar para uso ritual, eu estou agredindo e retirando uma parte viva e necessária àquele ser e como as plantas não gritam, ao menos com sons audíveis a nós humanos, eu não sei se lhes causo dor, mas sinceramente, acredito que sim.

E porque eu continuo usando as plantas? Porque elas são necessárias pra mim e para o meu culto. As energias que elas desprendem alimentam meu corpo energético e os Deuses, Ancestrais, Guardiões e etc. que eu cultuo ou coexisto religiosamente. Assim como uso partes de uma planta, que é um ser vivo, também usaria a planta inteira ou um animal se fosse preciso, inclusive um animal que amasse como os meus gatos. Tudo ia depender do propósito, do entendimento e da necessidade que eu tivesse para agir de tal forma.

O sofrimento que eu viesse a causar ou ter (porque sacrificar também implica em enfrentar sombras e sentimentos pessoais) seria de responsabilidade única e exclusiva minha, e como bruxa, sacerdotisa, mulher e religiosa que sou iria assumir qualquer tipo de problema que isso acarretasse desde que o meu objetivo fosse alcançado. Nisso alguém poderia dizer; então você é disposta a qualquer coisa para conseguir seus objetivos? Sim, sou. Só que, antes de ser desmerecida por isso, lembro que todo objetivo que se cria em minha mente ou em meu culto é pautado em crenças, cultura e acima de tudo, na minha ética e honra. Logo, todos os meus objetivos são coisas que eu considero úteis e com valor perante minhas crenças e cultura.

Eu não acredito em pecados, punições ou julgamentos, para mim, se um sacerdote de minha tradição assassinar alguém isso não é um pecado, considero errado e não faria o mesmo que ele, mas pra mim não é um pecado e não é motivo para que eu o ataque ou diminua. A escolha foi dele, a ação foi dele e se de fato os Deuses não permitissem tal coisa ele não conseguiria fazê-lo, mas se faz é porque permitem. Quando morrer ele vai viver entre pessoas que tomaram escolhas parecidas com as dele - outros assassinos, e caberá somente a ele aprender se isso lhe agrada ou não. (Isso é uma crença pós-morte nossa, não generalizem)

Talvez não tenha conseguido ser clara com o que quis expressar com essa hipótese, mas apenas estou tentando mostrar que as crenças das diversas religiões pagãs são muito diferentes e que o que pra um pode ser errado, para outro pode ser certo. E ainda que eu entenda e aceite o sacrifício de outros seres - plantas, animais e etc., tenho várias ressalvas porque não sei os verdadeiros motivos que levam as pessoas a fazê-los e não sei que tipo de entendimento as pessoas possuem sobre aquilo, portanto não recrimino, mas também não apoio, pois eu sei o que faço e o que meus irmãos de tradição fazem. Com estes eu concordo, mas com as outras religiões e práticas, que eu não faço parte ou entendo eu prefiro me manter calada, pois não posso julgar algo que não conheço.

Enfim, eu não tenho nada contra sacrifícios, sejam eles com sangue, seiva ou qualquer outro fluído vital. Eu pratico sacrifícios diversos, considero o meu esforço para manter meu culto e ensinar meus irmãos inexperientes um dos maiores sacrifícios que faço, rs, no culto uso plantas, sêmem, sangue meu ou de outro ser, urina, saliva, seiva, e várias outras coisas que saem de seres vivos, até porque ao meu ver tudo é vivo e sagrado. Nunca cheguei a sacrificar um animal especificamente para um ritual, mas já participei de tais rituais sem problema e minha avó criava galinhas, alimentava, dava nomes, fazia até carinho nelas e quando tinha casamentos, batismos ou coisa do tipo lá na casa dela, ela matava uma ou duas de suas galinhas para alimentar a família. Eu achava isso totalmente natural, porque ela também arrancava a alface e outras plantas e fatiava-as para comer. Todos os seres são vivos e sagrados pra mim, e todos também são capazes de gerar vida ou morte. Até as plantinhas podem matar, basta que sejam venenosas ou que você tenha alergia.

“Só há vida através da morte e morte através da vida” Essa é minha crença, absolutamente ninguém é obrigado a segui-la ou concordar com ela, mas precisam respeitá-la, pois é um direito que todas as pessoas possuem: ter suas crenças respeitadas.

Ao expressar minha opinião, argumentando através de minhas crenças, quis apenas mostrar que nós pagãos, possuímos crenças diferentes e que precisamos aprender a nos respeitar.

É isso. Abraços,

Dayne Anglius.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Witches' Ladder

Livro: Enciclopédia da Bruxaria
Autora: Doreen Valiente

O Folklore Journal em 1886 trouxe uma história sobre um achado impressionante em uma velha casa em Wellington, Somerset. Alguns construtores que estavam trabalhando na casa descobriram uma sala secreta no espaço entre o quarto de cima e o telhado. A julgar pelo conteúdo daquele buraco secreto, parecem ter chegado à conclusão de que aquele lugar era um local de encontro de Bruxas.
Seis vassouras foram encontradas lá, junto com uma antiga poltrona; talvez um assento para a pessoa que presidia as reuniões. Havia também um outro objeto muito curioso, que a princípio os descobridores não conseguiram explicar.
Ele era formado por um pedaço de corda, com cerca de um metro e meio de comprimento e um centímetro e meio de espessura. Ela era composta de três tranças, e tinha um laço em uma das pontas. Inseridas na corda, de forma cruzada, estavam várias penas. Na maioria, penas de ganso, embora algumas fossem plumas pretas de corvo ou de gralha, saindo para fora da corda em intervalos irregulares. As penas não tinham sido apenas amarradas na corda, mas pareciam ter sido fixadas entre as tranças no momento em que a corda tinha sido feita.
Algumas pessoas de mais idade de Somerset que viram essa estranha descoberta olharam para aquilo com desagrado e se mostraram reticentes quando lhes perguntaram o que era aquilo. Os trabalhadores o chamaram de uma “escada de bruxas” [Witches’ Ladder], e sugeriram que ela fosse usada para “subir até o telhado”, o que era obviamente absurdo. Uma senhora idosa, quando lhe perguntaram se ela sabia o que era aquilo, respondeu que conhecia o uso da vela com alfinetes, da cebola com alfinetes, e da corda e das penas. Ela se recusou a dizer qualquer coisa mais, mas como os feitiços de espetar uma vela ou uma cebola com alfinetes eram conhecidos como uma forma de amaldiçoar alguém, ficou evidente para os estudantes do folclore que se interessaram por essa descoberta que a escada das bruxas era um outro meio de colocar uma maldição.

Futuras investigações trouxeram à tona mais alguns detalhes. A corda e as penas tinham de ser novas, e as penas tinham que ser de um pássaro macho. Esse feitiço também não era particular de Somerset. Ele também era conhecido em outras partes do West Country, e era conhecido como uma forma perigosa e secreta de bruxaria.
Quando a cópia do Folklore Journal que apresentava uma descrição e um desenho da escada das bruxas chegou às mãos de Charles Godfrey Leland na Itália, ele investigou e descobriu que a maldição da corda e das penas era conhecida naquele país também. Entre as Bruxas italianas, ela era chamada de “la guirlanda della streghe” a guirlanda das Bruxas. Ela tinha uma forma muito semelhante, de uma corda com nós amarrados, e uma pena de galinha preta em cada um dos nós. A maldição era repetida várias vezes, conforme o nó era feito, e então o trabalho terminado era escondido na cama da vítima para trazer-lhe desgraças.
O reverendo Sabine Braing-Gould, que tinha um amplo conhecimento do folclore de West Country, introduziu o feitiço da escada das bruxas em seu romance “Curgenven”, publicado em 1893. De acordo com o seu relato, a escada de bruxa era feita de lã preta, fios brancos e marrons, entrelaçados, e a cada cinco centímetros era amarrado nessa corda um punhado de penas de galo, ou penas de faisão e galinha d’água, alternadamente. A velha avó que a fazia tecia e instigava a cada nó da escada das bruxas um tipo de dor ou sofrimento que ela desejava, para que atingissem o inimigo para quem a corda era feita. Depois ela amarrava uma pedra na ponta da corda, e mergulhava o objeto em Dozmary Pool, uma água que a lenda dizia ser assombrada. Ela acreditava que enquanto as bolhas subiam para o alto da panela, o poder da maldição era liberado para realizar seu trabalho.
É um tributo incrível à natureza disseminada das práticas secretas das Bruxas que praticamente o mesmo objeto fosse conhecido e usado em lugares tão distantes como Somerset e a Itália, por pessoas que naqueles dias não eram suficientemente alfabetizadas a ponto de aprenderem as coisas em livros; mesmo que qualquer descrição do feitiço tivesse sido publicada em algum lugar antes, o que, levando em conta o ponto de vista confuso dos folcloristas mais importantes que foram confrontados com essa descoberta, parece ser muito improvável.
Podemos observar que o número três mágico aparece na fabricação do feitiço, fato que é muito comum. Ela tem que ser uma corda tripla em que as penas são amarradas. As próprias penas são possivelmente símbolos do envio do feitiço voando de forma invisível em direção à pessoa intencionada.#

(Autoria de Nádia Bertolazzi)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Atho

Livro: Enciclopédia da Bruxaria
Autora: Doreen Valiente

Atho é o nome dado a uma cabeça esculpida do Deus de Chifres da Bruxaria, cujo dono é o sr. Raymond Howard de Norfolk. Em 1930, quando o sr. Howard era um garoto, ele morava com parentes em uma fazenda em Norfolk. Lá ele conheceu uma velha senhora chamada Alicia Franch, que vivia com os ciganos ou romanis. Ela se interessou pelo garoto, que ela viu pela primeira vez quando ele estava brincando num lago próximo a uma estrada no dia do solstício de verão.
A velha Alicia aparentemente achou que aquele encontro fosse um sinal, e ela ensinou-lhe algumas das tradições [no sentido de costumes, não no sentido de Tradições, porque ninguém usava o termo “Tradições” antes de Gardner] da Bruxaria que conhecia. Ela disse a ele que quando ela morresse iria deixar-lhe um legado, e ela cumpriu com a sua palavra. Em seu devido tempo, o sr. Howard herdou de Alicia Franch um número de objetos mágicos, entre os quais estava a cabeça de Atho.
Eu conheci o sr. Howard e vi essa cabeça esculpida ao vivo. Trata-se de uma figura muito impressionante, que tem uma força e um poder rude que a tornam um trabalho marcante de arte primitiva. Ela é feita a partir de um tronco de carvalho negro sólido, evidentemente muito velho. A cabeça está equipada com dois chifres de touro, e incrustada em vários lugares com prata e pedras preciosas. Ela é coberta com símbolos místicos, representando as crenças dos seguidores de Atho. O sr. Howard permitiu que a cabeça fosse fotografada pela imprensa e mostrada na televisão. Ele hoje acredita que isso não teria sido a coisa certa a ser feita, porque em abril de 1967 a cabeça foi roubada do antiquário do sr. Howard em Norfolk. Apesar das investigações policiais, o mistério do furto permanece sem solução. O ladrão evidentemente foi até lá especialmente para pegar a estátua, porque outros objetos de valor e uma caixa com dinheiro foram ignorados. Nós só podemos esperar que essa relíquia sem igual da religião das Bruxas possa um dia voltar à nossa história e ser devolvida a seu dono legal.
Era característico da Grã-Bretanha celta pagã esculpir cabeças sagradas de divindades [só pra lembrar uma frase de Gardner, “As Bruxas têm uma tradição de que a religião delas veio do Oriente”]. Elas geralmente eram de pedra, ao passo que a cabeça de Atho era feita de carvalho. Contudo, a idéia pode ter sobrevivido e ter sido transmitida. Com tantas descobertas arqueológicas, nós sabemos hoje que a veneração do Deus de Chifes celta Cernunnos foi espalhada por toda a Grã-Bretanha antiga; muitas representações dele foram encontradas. O nome Cernunnos é na verdade um título e significa “Aquele de Chifres”. Ele foi uma das muitas versões do Deus de Chifres das Bruxas.
A minha própria pintura da cabeça de Atho é reproduzida como uma ilustração para este livro. A precisão da cópia dos detalhes do original vai até onde os limites do meu talento me permitiram.
Os chifres estão ornamentados com os signos do zodíaco. Na testa estão os cinco anéis da Bruxaria, os cinco círculos diferentes que são formados pelas Bruxas. O nariz é um cálice de vinho, que guarda o vinho do Sabá; ele está ornamentado com um pentagrama, o sinal da magia. A boca tem a forma de um pássaro, o mensageiro do ar. O queixo é um triângulo, com os diversos significados mágicos da Tríade.
Na parte de baixo estão as serpentes gêmeas, representando as forças positivas e negativas [e os nádis]. Os outros símbolos desenhados ao redor da cabeça estão na verdade esculpidos no original. A folhagem germinando entrelaçada ao fundo representa as forças da vida e da fertilidade, que Atho personifica.
O nome Atho é evidentemente uma versão Sassenach do galês arcaico Arddhu, que significa “O Sombrio”.

(Autoria de Nádia Bertolazzi. Thank you again and again, Nadia =D)

A Estaca Bifurcada.

Autores: Evan John Jones e Doreen Valiente
Livro: Feitiçaria, a Tradição Renovada

Talvez seja mais correto dizer “as estacas", pois existe mais de um tipo desse instrumento. Há a estaca individual, a do coven e as estaca de abrunheiro [ameixeira-brava], utilizada para amaldiçoar ao inimigos do clã, do coven ou do grupo. A estaca do coven e a de abrunheiro em seus diferentes aspectos, atributos e usos serão tratadas no capítulo referente aos símbolos do coven, embora vários atributos sejam comuns a ambas.
Como acontece com muitos instrumentos da Arte, as origens da estaca perdem-se nas brumas do tempo e da história. As poucas alusões que temos do seu uso nos primeiros tempos nada mais são do que especulações e conjecturas, como as que encontramos no livro de Alfred Watkins, “The Old Straight Track”. Diz-se que o seu “Men-of-the-Leys” ou “Dodmen”, com suas varinhas de adivinhação em forquilha, possuem um ancestral comum com as feiticeiras.É teoria impossível de ser ou não comprovada, embora haja possibilidade, à luz da tradição, de ligação das feiticeiras com as estradas antigas, em particular com as encruzilhadas, um dos lugares de encontros. Na verdade, a lenda reza que muitas feiticeiras foram queimadas nas encruzilhadas.
Um dos poucos fatos de que temos certeza é que a vara em forquilha é peculiar à Arte. Como exemplo, lembro-me de uma visita que fizemos a Stonehenge. Tínhamos visitado Salisbury Plain e decidimos ir até Stonehenge. Na ocasião eu era o único do grupo que tinha levado a minha estaca, e a estava usando como cajado para apoio. No caixa da saída, ouvimos um dos atendentes dizer para o outro: “Ele é um bruxo. Aquilo que está segurando é uma estaca dos bruxos.” Um caso claro de reconhecimento por identificação_ a estaca em forquilha foi a marca registrada.
Qual a função, no nível pessoal, exercida pela estaca? Ela é um emblema da fé, do pertencimento à fé e de sua aceitação, bem como de tudo o que está a ela ligado.
Serve como um “altar” pessoal e como um cajado, para ir e voltar dos encontros, e como símbolo ou sinal de que aquela pessoa pertenceà Arte. A mais importante é, naturalmente, a função de altar.
Nesse conceito a estaca representa o Deus-Rei Divino das clareiras, o Deus da caça e da fertilidade. Também nesse conceito de totem está incluído o ritual do sacrifício do Rei-Sacerdote Divino nos rituais da Véspera de Maio, para libertar o espírito do verão; por exemplo, a libertação do Jack-in-the-Green, simbolizado por um arbusto que dança e que é empurrado sobre ele para “matá-lo”. No aspecto do Deus-Árvore é o Rei-Carvalho santificado servido pelo Robin Goodfellow ou Robin Hood, junto com Marion e os outros onze, formando um coven completo de treze membros. Simboliza também a Criança-consorte Cornuda da Deusa sob a forma de Diana das Florestas, a Diana Nemorensia. Sob esse enfoque, o dono da estaca-altar torna-se, num sentido, descendente do guardião rei-sacerdote da árvore sagrada do bosque de Diana, em Nemi.
Como uma ferramenta individual de trabalho, o uso da estaca pode ser simples ou complexo, dependeno da escolha que se fizer. Uma dupla, unindo-se para trabalhar fora das reuniões principais do coven, deve colocar como altar uma estaca. Isto pode ser feito de duas maneiras e, mais uma vez, ser ato simples ou elaborado. No primeiro caso, que é o mais aconselhável para trabalhos externos ou, se houver espaço, para trabalhos internos, a estaca é colocada como altar no centro de um círculo.
Independente de o ritual ser realizado ao ar livre ou dentro de algum ambiente, utiliza-se um círculo com nove pés (2,75m), e seu traçado é ligeiramente modificado pela ausência da vassoura. O fechamento do círculo é feito pelo lado de dentro, traçando-se uma linha que o cruza. Se o ritual estiver sendo realizado dentro de um ambiente, a estaca pode ser fincada num balde de areia, e o círculo, traçado com faca, de maneira simbólica. Para os que possuam espaço que pretendam usar com freqüência, o melhor é utilizar um pedaço de lona com um círculo pintado em branco [péssima condutora de energia mágica. Um tecido natural seria melhor.]
Quando a estaca é fincada no centro, acende-se uma pequena vela no meio da forquilha ou entre os garfos. Os bolos e vinho são consagrados da maneira usual, e a Dança do Moinho, realizada deosil ou widdershins, dependendo do propósito para o qual o ritual está sendo trabalhado.
Nesse estágio, devemos considerar a questão do trabalho realizado com os corpos desnudos. Mais uma vez, trata-se de decisão das pessoas envolvidas. Há uma tradição de trabalhar com os corpos desnudos e também boas razões mágicas para isso. Enquanto prática de ambiente fechado, há muito o que ser considerado. Por outro lado, a entrada nos quarenta e algumas gordurinhas localizadas, bem como pelancas, são boas razões para evitá-la. A escolha de trabalhar desnudo deve ser tomada pelas pessoas que irão trabalhar juntas. Ninguém deve ser forçado a fazê-lo contra a sua vontade.
No caso de uma dupla trabalhando, com espaço suficiente para colocar uma estaca dentro do círculo, ou no caso de um indivíduo trabalhando sozinho, os objetivos e os métodos são diferentes dos estabelecidos para o ritual do círculo. É mais ato cerimonial do que ritual de trabalho prático. Algumas pessoas acham que uma vez por mês é o ideal, enquanto outras preferem encontrar-se a cada mudança de fase da Lua e vão ao ponto de manter um calendário especial para celebrar todo o ano sinódico. Sem nos aprofundarmos até esse ponto, é muito agradável trabalhar segundo uma ritualística, de acordo com a nossa vontade ou do nosso companheiro, fora dos ritos usuais. Nos ritos cerimoniais, a estaca, com o auxílio de um balde de areia, é colocada numa área limpa. Próximo dela deve haver uma mesa; se houver pouco espaço, uma mesa pequena é ideal. Nela deverá haver candelabros e velas, um pequeno pote cheio de areia com varetas de incenso fincadas, um copo e uma garrafa de vinho. No caso de uma dupla masculino-feminina, os dois elementos podendo consagrar os bolos e o vinho, também deverá haver sobre a mesa os bolos e a faca para realizar a consagração da maneira usual.
A pessoa podendo trabalhar sozinha e não podendo consagrá-los, deverá acender a ou as velas e as varetas de incenso e realizar um ritual particular. Quando chegar ao momento de colocar o vinho, deve encher o copo, elevá-lo e, ao mesmo tempo, dizer:

“Minha Senhora... Deusa da Noite... oro para que me vejas e me ouças... Pois o que fiz foi em tuda honra e em teu nome... Oro para que aceites esse ato de adoração, embora solitário... E oro para que me sejam concedidos a paz interior e o conhecimento que é a marca dos seus seguidores... Por meio desse conhecimento... obter sabedoria para aceitar a vida como ela é e vivê-la em amor pelo que és... Pois o meu espírito buscador encontra a paz no serviço a ti... Eu esvazio esse copo em nome da Nossa Senhora e em memória dos que conheci... Que possam eles partilhar do que sinto nesse momento... Assim, oro em nome da Nossa Senhora.”

[Apenas pra lembrar, a “Nossa Senhora” citada é a Senhora da Lua, e não se deve confundi-la com a cristã. “Sinta o que eu sinto” também é uma antiga forma de maldição, se a pessoa que diz a frase estiver se sentindo muito mal. Minha avó já amaldiçoou alguém desse jeito. Um bispo, aliás. Até eu já usei isso.]
O copo é esvaziado, e a cerimônia termina.
Um ponto que deve ser notado é que a estaca usada como altar pessoal nunca é enfeitada, como a utilizada pelo coven. Se a pessoa sentir necessidade de colocar flores no altar, deverá ser como um buquê ou uma única rosa, como a lembrança da Rosa-Além-do-Túmulo, e vista como símbolo da imortalidade.
“Busca e encontrarás” resume perfeitamente o trabalho necessário para obter uma boa estaca de freixo [700 anos atrás, a minha era de carvalho. Era tradicional, apesar de ilegal cortar carvalho na Irlanda. Provavelmente foi por isso que substituíram pelo freixo. Essa substituição aponta para uma possível origem irlandesa dos conhecimentos de Robert Cochrane.]. Os lugares onde ainda existem matas são poucos e distantes, mas, quando você encontrar a estaca, o reconhecimento de que é sua é imediato. Você sentirá na mão. Um ligeiro formigamento nos dedos confirmará que é a sua, e somente sua. Reza a tradição que deverá ser cortada no período da Lua Cheia com a sua própria faca. Como a maioria das florestas que possuem freixos fica afastada das cidades, as pessoas costumam cortar a sua estaca durante o dia. Entretanto, existe um ritual que nunca deverá ser negligenciado, embora seja simples. Quando alguma coisa é tomada, alguma coisa deve ser deixada. Quando retirar a sua estaca, deixe uma moedinha em pagamento.
O próximo passo que deve ser observado é a consagração da estaca. Como acontece com todos os instrumentos pessoais, a consagração da estaca é realizada em nome dos quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Mas, antes disso, ela deve ser calçada com ferro. Isto é feito cravando-se um prego na sua extremidade. Como o mesmo deve ser realizado com a estaca do coven, as razões serão apresentadas mais tarde, no capítulo referente aos símbolos do coven. [É pro poder não escorrer pro chão. Esse não era nosso costume há 700 anos, na Irlanda, e também não se faz isso na Escócia, e na Itália também não se usa. Não calçamos com ferro porque a estaca deve servir pra puxar a energia da Terra pra cima e, se pusermos ferro, a estaca vai ficar “entupida” e não vai puxar nada.]
Quanto ao ritual de consagração, ele é geralmente realizado pelo próprio dono e ao ar livre. Resumindo: primeiro, a estaca é passada pelo fogo para ser purificada, e, em seguida, aspergida com água. Depois, é fincada no elemento terra. Em seguida é soprada três vezes [o maucht é soprado junto com o ar], e, finalmente, o dono passa seu cordão [iniciático] pelo pulso e por ela enquanto invoca a Deusa na sua face Mãe: “...para impregnar essa estaca com parte dos seus poderes a fim de torná-la verdadeiramente um instrumento mágico.”
Uma vez purificada e consagrada, nunca mais deverá ser vista como um simples pedaço de madeira. É objeto de trabalho magicamente impregnado, altar, representação do Deus Cornudo. Em certo aspecto, adquire o mesmo significado ritual da Árvore Sagrada no bosque de Diana, e, até certo ponto, o dono passa a ter as obrigações do sacerdote-rei do bosque sagrado e de servidor do Deus Cornudo e da própria Deusa.

As estacas do Coven
Livro: Feitiçaria, a Tradição Renovada
Autores: Evan John Jones e Doreen Valiente.

Mais uma vez devemos lembrar que, diferentes dos outros símbolos do coven, a estaca e a faca atendem a dois níveis dentro de um grupo de trabalho. A estaca e a faca pessoais partilham dos mesmos atributos dos objetos do coven, a única diferença sendo que a estaca e a faca do coven desempenham papel mais formal dentro dos rituais.
Outro aspecto a ser considerado é o uso do plural "estacas" nesse subtítulo. Tradicionalmente, a estaca de freixo é o esteio dos trabalhos comuns no círculo. Em ocasiões muito raras, em que é preciso defender o coven ou um de seus membros contra ataque exterior, traz-se para o círculo uma estaca de abrunheiro.
Como se trata de madeira de maus presságios, a única utilização da estaca de abrunheiro dá-se no ritual solene de alguma maldição formal. Nesse ato, ela representa o Deus de Duas Faces. Da mesma origem sai o poder, que pode ser usado tanto para o mal como para o bem; por isso raramente deve ser invocada ou trabalhada. Em vinte anos de prática ocultista, somente uma vez participei de uma maldição formal. Foi, aliás, inteiramente merecida, mas posso dizer que os sentimentos que gerou foram os mais desagradáveis, para classificá-los da forma mais suave possível. A maldição formal é uma das armas do arsenal da fé, mas raramente deve ser usada, mesmo para defesa pessoal.
Como disse anteriormente, a estaca de freixo como conceito é uma representação do Rei-Deus das clareiras e também do espírito reencarnado do Velho Rei no jovem Menino-Deus da Mãe, em seu aspecto de Diana das Florestas. Para o coven, a estaca de freixo é o guardião da entrada do círculo, o elo entre o mundo da Deusa e o mundo do círculo. Um de seus aspectos é o de Herne, o caçador, como deus da caça e da fertilidade. Sob essa forma, é ele quem conduz a Caçada Selvagem em Candlemas. Cavalgando a Égua da Noite, com os Cães do Inferno [em Gales, Cwn Annwn, Cães de Annwn] acompanhando, ele busca as almas dos mortos para conduzi-las ao submundo.
As proximidades do Grande Carvalho no Parque de Windsor têm a reputação de serem habitadas pelo espectro de Herne na época de Candlemas. A ligação de Herne com o carvalho é encontrada nos conceitos de Rei Carvalho e Senhor das Matas. O poderoso carvalho, guardião do portal, ou o freixo sagrado, símbolo do nascimento e do renascimento, colocado fora do círculo, preside os trabalhos na posição ao norte. Movendo a posição da estaca, ela preside a festa realizada após o ritual. Essa posição da estaca em relação à festa confirma o aspecto da Criança com Chifres e a Mãe, representada pela Senhora do Sul. É o filho presidindo a festa em honra à Deusa.
Para os quatro trabalhos principais, a estaca do coven é enfeitada com flechas e guirlandas. Também as flechas simbolizam a dualidade do conceito do Deus Cornudo. São uma lembrança do Deus da Caça e também da noção de que uma das várias faces da Deusa é a de Divina Caçadora. Ao prender as flechas cruzadas com as pontas para cima, estamosnos lembrando desses antigos conceitos.
Fixamos a guirlanda, amarrando-a com arame nas flechas cruzadas. O tipo da guirlanda depende daquilo a que se destina o ritual. Começando com Candlemas, a estaca deverá ser enfeitada com ramos de teixo. Como árvore de lamentação, o teixo simboliza a morte do ano velho. Como Candlemas é, na verdade, o início do ano ritualístico [eles só celebram Candlemas, Beltane, Lammas e Samhain. Há 700 anos, na Irlanda, a gente celebrava os oito. A França Medieval também celebrava os oito.], o teixo comemora a passagem final do ano que se foi. Se houver qualquer dificuldade de obter os ramos, a estaca é montada só com as flechas, sem flores. Uma estaca sem flores representa a paisagem nessa época do ano. As árvores estão despidas, sem folhas, os campos vazios. Mas, se olharmos mais de perto, os sinais da nova vida estão lá, na natureza. Isto é o ritual de Candlemas: a semente da inspiração, plantada, o fogo da vida, aceso.
No ritual da Véspera de Maio, a estaca deve ser enfeitada com uma mistura de ramos de bétula, aveleira, salgueiro e espinheiro. A bétula está ligada à felicidade e é considerada feminina, árvore do renascimento. A aveleira está associada a fertilidade, fogo, poesia, adivinhação e conhecimento. Finalmente, tanto o salgueiro como o espinheiro são geralmente reconhecidos como árvores de má sorte e lamentação, mas no 1o. de Maio os ramos dos dois são considerados de bom augúrio, desde que não sejam trazidos para dentro de casa.
O Festival da Colheita [Lammas] é, naturalmente, época de congraçamento por tudo o que o ano trouxe para o coven. É o momento de colher a semente plantada em Candlemas, por isso a guirlanda mais apropriada é feita de hastes de cereais. Os grãos colhidos simbolizam o espírito e a tradição do coven nos últimos meses. O período de tempo entre o Festival da Colheita e a Véspera de Todos os Santos [Argh, nome mais cristão!] é a época para reflexão sobre o que o passado significou para o indivíduo e também quanto às lições aprendidas dentro do grupo.
A Véspera de Todos os Santos é o momento da morte. Como esse ritual difere de todos os outros, pelo uso de círculos gêmeos, devemos lembrar que a parte principal é realizada no segundo círculo. Se a estaca for enfeitada, deve ser com teixo. (Eu prefiro somente as flechas cruzadas, sem a guirlanda, para esse ritual, mas essa é uma visão pessoal. Mais uma vez, cabe aos membros envolvidos decidirem o que preferem.) [O teixo tem o poder de convocar os mortos.] Como se trata de época de recordações e lamentações, também simboliza a passagem de um mundo para outro; a estaca e a guirlanda não pertencem ao círculo onde o trabalho será realizado. Pergunta que sempre surge é: por que tantas diferenças nas guirlandas? Simplesmente porque elas são símbolos físicos dos conceitos da fé, insígnias que nos lembram para que estamos trabalhando em cada um dos rituais. São como as cinzas simbólicas dos ramos ofertados no Natal [Argh. Por que não chamar deYule?] para dar boa sorte e que são queimados durante o Natal do ano seguinte. (Estes símbolos são uma parte diminuta de linguagem e de tradição muito complexas em relação às árvores. É assunto digno de estudo mais aprofundado, que não foi incluído nesse livro pela complexidade e também por não ser um dos nossos objetivos, embora haja pequena relação das árvores no Apêndice.) Novamente é preciso ficar claro que o uso dessas madeiras não é obrigatório. Além disso, não são todas as pessoas que as obtêm. Se lhe for possível, será ótimo. Caso contrário, outras madeiras servirão. É o conceito que importa, e não os símbolos. [Descobri que essas madeiras foram todas aclimatadas no Brasil, e que são relativamente fáceis de serem achadas em São Paulo.]
O abrunheiro, sendo árvore agourenta, quando utilizado como estaca serve para o lado escuro da Arte. De alguma maneira ela repreenta uma cabeça com duas faces: uma, a do bem, e a outra, a do mal [Isso me lembra quando os quatro Senhores vão ao Reino dos Mortos em busca do Sol, Janus, que havia sumido da Terra e se deparam com ele sentado no trono como Rei dos Mortos. Ele diz: “Agora vocês realmente viram minhas duas faces.” Stregheria.] O poder é neutro. A finalidade para a qual é trabalhado é o que importa. No caso da estaca de abrunheiro usada como altar, o uso do poder que é despertado destina-se ao mal. Mais uma vez devemos enfatizar que esse assunto deve ser levado a sério. A única razão para ser usado é a ausência de qualquer coisa que possa substituí-lo.
Por exemplo, se alguém estacionar diante da sua saída de garagem, é melhor bater-lhe do que lançar-lhe alguma maldição [Vai bater em alguém só por isso?! Agora me achei “zen”. Como eu luto kung-fu, sei o tamanho do estrago que posso fazer em alguém, e isso me torna extremamente tolerante.] . Por meio da utilzação do ritual de amaldiçoamento, o grupo envolvido pode, com freqüência, perder um ano inteiro de trabalho. Os sentimentos e as emoções que surgem durante o ato transformam bastante a atmosfera do grupo. As pessoas tendem a evitar-se. Não se abrem mais durante os encontros. Uma vez ativado o lado escuro das pessoas, é difícil subjugá-lo novamente. [Aceite-se como é. Apenas isso.]
Então, por que incluir o ato de amaldiçoar em primeiro lugar? Assim como a vida não é somente doçura e luz, a fé também não. A capacidade de realizar uma vingança mágica contra os inimigos do coven é parte intrínseca da Arte, e os porquês a respeito desse poder devem ser compreendidos por quem pratica os rituais. Outra coisa a ser notada é que a estaca nunca é enfeitada para um ritual de amaldiçoamento.
Pelos perigos inerentes ao ritual de amaldiçomento, esse trabalho não será mencionado. É conhecido por todos os grupos dentro do clã e lá permanecerá. Sua divulgação poderia despertar a tentação de usá-lo sem haver a compreensão total dos valores morais envolvidos na decisão de praticá-lo. Em vinte anos, recorri a ele somente uma vez e sinto que, se tiver de usá-lo, nos próximos vinte anos será ainda muito cedo. Quem desejar incluir um ritual formal de amaldiçoamento terá de descobrir o seu próprio caminho [ao contrário do “Amaldiçoamento Formal”, a “Maldição da Luz Espelhada”, por sua vez, é uma maldição que pode ser facilmente encontrada. Yes, nos temos maldições.]. Somente a pesquisa dos conceitos e mecanismos inerentes ao processo de um amaldiçoamento poderá levar à compreensão total dos perigos inerentes a um trabalho com esse tipo de ritual.
Na criação da estaca do coven, pelos vários aspectos formais e cerimoniais envolvidos, a forma é diferente daquela da estaca pessoal. Freqüentemente, a pessoal é uma forquilha de freixo. Pela tradição, a estaca do coven é de abrunheiro [aqui eu não sei se a confusão foi os autores ou da tradutora. Estamos falando de três estacas: a pessoal, a do coven, e a de amaldiçoamento do coven. Só a de amaldiçoamento é de abrunheiro.], montada sobre a cabeça de um forcado ou de um par oco de chifres de ferro. Dependendo do espírito totêmico do animal guerdião adotado pelo grupo, coven ou clã, a máscara desse animal será fixada na base dos dois dentes. Isto cria o símbolo do jovem Deus Cornudo sob o aspecto de espírito-guardião do coven. [Uma estaca bifurcada, sem cabeça, é mais usada como estaca de coven. A que vi com cabeça era parecida com o cetro do Esqueleto, do desenho do He-man. E não tinha ferro nenhum. Até o caldeirão, era preferível que fosse de bronze. Quanto menos ferro, melhor.] Primitivo, talvez, mas, como sinal de identificação, age diretamente como chave para todos os conceitos envolvidos nos trabalhos do clã.
A máscara da cabeça do carneiro, montada abaixo dos dentes da estaca do nosso coven, não necessita de explicações. Todos no clã sabem o que significa e qual a sua razão de ser [veja o “Carneiro Real”, no tópico “Crânios na Bruxaria”.]. O mesmo pode ser dito quanto à estaca de abrunheiro. A pequena máscara de veado, montada logo abaixo dos dentes, é a chave para o conceito de Herne, o caçador, e seus cães de caça, conceito ligado à maldição.
Ao colocar a máscara do animal na estaca, estamos voltando à pré-história e ao espírito guradião ou totem do grupo. Dizer, por exemplo, “Eu pertenço ao clã do cabrito montês”, significa envolvimento mais pessoal com seu coven ou grupo do que simplesmente mencionar: “Eu sou membro de um coven.” Dessa forma, o espírito do coven pode ser ampliado e aumentado para formar o espírito do clã.

Calçando com Ferro

Como deve ter sido notado, tanto a estaca pessoal, como a do coven devem ser calçadas com ferro após a consagração. Por trás disso há uma longa história de teoria mágica. A ligação da arte da ferraria com as varas mágicas repousa na maneira mágica e pouco compreendida por meio da qual as pedras podiam ser tratadas com fogo para serem transformadas em ferro. Outro uso do fogo permitiria a esse elemento ser moldado em todo tipo de coisas. O ferreiro possuía a capacidade e o conhecimento para realizar essa tarefa. Como acontece com a maioria dos comércios secretos, dizia-se que este tinha uma origem divina, revelada somente a algumas pessoas selecionadas após longo serviço prestado a um mestre_ um tipo de antiga “loja fechada”. [Veja também, sobre ferreiros, o tópico “A Dança Espiral e o Deus Aleijado”.]
Na teoria, o ferro não-natural era capaz de neutralizar a magia natural de um encanto. Seguindo essa linha de pensamento, surgiu a idéia de que uma bruxa não podia atravessar o ferro. Como uma bateria, a estaca é carregada ou impregnada de poder mágico no ato da consagração. Como esse poder não pode atravessar o ferro, ao calçar a estaca com esse elemento, o poder não mais escaparia para a terra, permanecendo no corpo da estaca. Ao fixar o prego na extremidade da estaca após a consagração, retemos no corpo da mesma o poder mágico da Deusa, tornando-a um verdadeiro altar da sua criação.

[Aqui termina o texto de E.J.J. e Doreen Valiente.]

Temos um pequeno problema aí. Temos uma tradição que afirma que “ferro neutraliza ou bloqueia a magia”. E temos nossos athames e espadas, que são feitos de quê? Ferro, né? Isso são tradições mágicas cruzadas de povos diferentes. Uma, do fim da Idade do Bronze e começo da Idade do Ferro, que abomina o ferro trazido pelos invasores. E outra, que usa o ferro e considera os ferreiros mágicos. O conjunto dos Nove Instrumentos Rituais, vale lembrar, é de origem mitraica. Não sei quando entrou na Irlanda, mas já era usado pelos Bruxos irlandeses no fim do século XIII.


(Autoria de Nádia Bertolazzi! Mais uma vez, obrigado Nádia ^_^)

Reflexão sobre a "Pink Wicca". By Dayne Anglius.

" Pessoal sei que esse assuto é irritante, mas eu gostaria de colocar uma reflexão minha aqui, pois oq vou descrever ocorre muito aqui, e merece atenção.

Atualmente vemos diversas pessoas pedindo explicações com as perguntas mais bizarras possíveis, normalmente atribuímos essas proezas a Autora das Revistas Wicca, a Eddie Van feu, que, em suas publicações baratas (ambigüidade), mistura diferentes crenças, sistemas e ensinamentos, propiciando o aparecimento do que hoje chamamos de "Pink Wicca", ou seja, uma deturpação completa que infelizmente se solidifica a cada dia ganhando novos “adeptos”. Mas existe um ponto interessante que gostaria de debater com vcs: “A culpa disso tudo é só da Eddie”?

Faço essa pergunta pq percebo uma coisa muito triste ocorrendo na sociedade Wiccana, quando um jovem vem tirar suas dúvidas ele não pode citar a Eddie e nem fazer uma pergunta simples, pois automaticamente é tratado como se fosse a pior das pessoas na terra, é xingado, tratado com descaso e brincadeiras irônicas, para muitos isso parece o certo a ser feito, mas eu acho que é muito errado e vou dizer o porquê.

Uma pessoa nunca (prestem atenção) NUNCA ouviu falar na Wicca, e escuta ou lê alguma coisa que diz que essa religião é ligada ou faz parte da bruxaria, provavelmente a única lembrança ou informação que essa pessoa tem acerca da Bruxaria são filmes Hollywoodianos, como Harry Potter, Jovens Bruxas ou os clássicos de terror onde a Bruxa faz pacto com o diabo e tudo mais. Talvez essa pessoa fique interessada em conhecer, mesmo que morra de medo (pois sabemos a idéia que as pessoas tem da bruxaria), sendo assim ela tem duas opções: Ou procura na internet (qndo tem internet) ou compra algum livro ou revista que fale sobre a Wicca, mas espera um pouco, ela lembra de ter ido na banca de jornal, e lá existe uma revista com o nome de Wicca, obviamente ela vai lá e compra, acha interessante, meio bobo demais, mas a idéia de ser tudo bonzinho, tudo paz e amor, fazer feitiços para ganhar dinheiro, arranjar namorado bonito, e mais um monte de coisas parece bem interessante, mas como o conteúdo da revista é meio complicado e em alguns casos contraditório, essa pessoa fica com dúvidas, ai ela vai numa Lan house, ou no Pc da casa dela e procura sites que expliquem a Wicca, acaba ficando mais confusa ainda, pois uns sites defendem as mesmas idéias da revista e outros discordam completamente, oq fazer nesses momentos? Procurar alguém para tirar essas dúvidas. E qual é o melhor lugar para achar pessoas? O maior site de relacionamentos: Orkut...

Essa pessoa, que ainda não sabe muito, que está confusa, entra em uma comunidade e pede informações, faz perguntas de acordo com oq leu na revista, e tb pergunta coisas referentes aos filmes, afinal ela precisa saber se eles acreditam naquilo ou não, mas nesse momento ela se surpreende, ninguém responde as dúvidas dela, ou pelo menos é gentil de lhe indicar um local para que ela busque maiores informações, simplesmente surgem pessoas a xingando, dizendo para ela deixar de ser “Pink” (como se soubesse oq significa), muitos são irônicos e alguns até agressivos. O que acontece depois disso? Ou ela define que a Wicca é uma religião ridícula, de pessoas grosseiras, que provavelmente cultuam mesmo o diabo, afinal a trataram super mal sem nem a conhecer, não busca mais informação nenhuma e ainda sai falando mal da religião para os outros, ou ela acredita que essas pessoas que a xingaram, agiram assim com ela porque estão tentando destruir a tal religião, que, pelo que ela leu na revista, preza o amor, a beleza e a paz, e com isso passa a comprar mais revistas, a buscar mais informações somente nos sites onde a revista é citada, adquire amigos que tb gostam da revista, e assim transforma-se em mais uma praticante da “Pink Wicca”.

Olhando por esse lado, analisando essa história, quem foi afinal de contas que a transformou numa “pink”, foi a Eddie? Eu acho que não...

Fiz todo esse comentário com o intuito de alertar muitas pessoas, que mesmo intitulando-se sacerdotes esquecem o real significado desse posto: Um sacerdote é uma pessoa que representa uma divindade ou várias, que representa uma crença ou que assume a responsabilidade de ensinar e praticar uma religião ou religiosidade com outras pessoas menos instruídas e/ou tão instruídas qnto ele. Um sacerdote é visto como um professor, um mestre, alguém a quem podemos recorrer para tirar nossas dúvidas, para nos auxiliar em nossas práticas, o sacerdote é alguém que tenta ao seu máximo vivenciar a crença que prega de forma correta e ensina-la a todos aqueles que lhe pedem ajuda. Mas se em uma religião aqueles que se dizem sacerdotes, normalmente, xingam, maltratam, ironizam ou simplesmente repelem as pessoas que vão até eles pedir ajuda, como poderemos aprender sobre essa religião, mas acima de tudo como vamos respeitar essa religião? Afinal, só merece o nosso respeito quem nos respeita.

Reflitam sobre isso, se vc está na Religião Wicca é pq vc pretende ser um sacerdote, então mesmo que vc ainda não seja, pare para refletir, analise como vc anda respondendo as pessoas, veja a sua postura, pois é ela que vai mostrar se vc está realmente pronto para definir-se e ser definido como um sacerdote. A Wicca não é só conhecimento, só livros, é vivencia, é contato, é equilíbrio, é Respeito! A Natureza não repele seus filhos, mesmo aqueles que a destroem, ela tenta sempre ensina-los mostrando exemplos, e qndo eles continuam no erro e não querem aprender, ai sim ela age de forma mais rude, reagindo com a mesma destruição.

Muitos desses jovens que se intitulam mestres, ou acham que estão prontos para ensinar algo, fazem isso pq nunca receberam a instrução correta e acham que estão fazendo o certo, para eles a Bruxaria é “poder”, é títulos, e ninguém explicou que não era e o porquê de não ser. Nossa obrigação é tentar de todas as formas possíveis ensina-los o certo e mostrar claramente porque o que fazem é errado, apenas dizer “não faz isso”, ou “isso é errado”, não vai mudar nada, não vai convence-los, vai é dar mais corda, pois vão achar que “estão podendo”, que oq fazem incomoda, e é isso que querem.

Enfim, pensem, reflitam, quem sabe assim não melhoramos um pouco a bagunça que estão fazendo com a Wicca na internet. Entretanto gostaria de ressaltar que não estou dizendo que devemos agir calmamente com aquelas criaturas que mesmo depois de diversas explicações, continuam deturpando e falando bobagens, essas merecem ouvir uns desaforos, mesmo que ainda assim eu ache desnecessário, mas esses merecem. Agora já pararam para perceber como estamos tratando mal qlqr pessoa desinformada? Sacaneamos qlqr pessoa que queira tirar dúvidas, td bem que cansa responder sobre HP, sobre como conseguir um namorado, mas se não for para falar algo útil pq está cansado, então tb fique cansando para xingar e repelir as pessoas só pq elas estão mal informadas.

Eu agradeço a paciência de quem leu, gostaria de lembrar que esse texto não é destinado a ninguém, é apenas uma reflexão pessoal, talvez e provavelmente alguém discorde de diversos pontos aqui expostos, e isso é completamente natural, eu não estou tentando passar verdades e muito menos dizer como alguma coisa tem que ser, quis apenas expressar aquilo que há muito tempo me incomoda.

Abraços e que Athenas abençoe todos nós com mais sabedoria para conviver com outras pessoas em harmonia..."

(Autoria de Dayne Anglius)

Naked Witchcraft

Um video que quebra o tabu da nudez em rituais. Vale a pena

Haxan - Witchcraft Through the Ages

Um video que envolve simbolismos do antigo Sabá das Bruxas Tradicionais. Lugar fora do tempo onde o senhor Chifrudo habita eternamente.

domingo, 9 de agosto de 2009

Crânios na Bruxaria

Crânios na Bruxaria

Livro: "Enciclopédia de Wicca e Bruxaria"
Autor: Raven Grimassi

"O Crânio é um símbolo de sabedoria e conhecimento guardado. Nos mistérios internos dos ensinamentos o crânio é um símbolo da natureza interna despojada de sua origem através do processo de Iniciação nos grandes Mistérios do Ocultismo. Ele também é um símbolo da morte, seja a morte da carne ou a morte do ego/ de si mesmo. Esta é uma razão pela qual o crânio aparece nas cerimônias de iniciação na Antiga Religião. Aqui, ele é um lembrete de que a antiga personalidade estava morrendo para uma nova consciência.

O crânio, particularmente quando mostrado com os ossos cruzados, também é um símbolo do Deus em antigas religiões Pagãs. Os ossos cruzados abaixo do crânio são símbolos do Deus Sacrificado, e um sinal da ressurreição da morte. Na Bruxaria, o crânio algumas vezes é mostrado colocado na frente de um caldeirão. Nesta posição ele simboliza o renascimento através dos poderes da transformação associada com o caldeirão. Na Bruxaria Italiana o crânio também representa a culminação do conhecimento ancestral.

Na magia e no misticismo, o crânio é uma ligação para os espíritos dos mundos Sobrenaturais através de sua associação com a morte. Ele também é um receptáculo para a energia psíquica, e por esta razão normalmente é colocado próximo dos instrumentos de adivinhação como a bola de cristal e o espelho mágico. Uma vez que os magos se tornaram mais sofisticados, o simbolismo do crânio evoluiu na arte da frenologia. Esta arte foi popularizada no século XVIII pelo Dr. Franz Joseph Gall, que teorizou que as faculdades do cérebro poderiam ser determinadas a partir da forma do crânio."

O crânio é um dos instrumentos com associações mais antigas e conhecidas sob várias formas de pensamento e trabalho ocultos, embora na tradição da Arte não sej aobjeto tão comum, principalmente por, suspeito, estar ligado ao roubo e à profanação de sepulturas, satanismo, vodu, etc. Talvez o uso do crânio em rituais seja visto como algo demoníaco em conseqüência do pensamento cristão em relação a qualquer prática mágica contrária à palavra de Deus, bem como por estar ligado ao Demônio e ao lado obscuro da natureza humana.

Ao mesmo tempo, dentro da igreja cristã houve e ainda existe o reconhecimento de que os restos mortais pertencentes a determinadas pessoas_ os santos_ possuem certos poderes. Estes em geral envolvem cura, e, conseqüentemente, eram tratados como relíquias sagradas. Conservadas em tumbas magníficas, tornaram-se foco de peregrinações. Acredita-se que estas relíquias, quando acompanhadas de preces, formam, para os crentes, um elo com o espírito do santo na esperança de obter alguma graça sob a forma de milagre. Da mesma maneira, o crânio, nos rituais, agia como foco de moradia para um espírito. Havia somente esse tipo de contato em nível pessoal para o grupo ou coven e restrito somente àquele grupo.

No passado, várias culturas criaram alguma mitologia sobre crânio ou ossos como instrumentos de culto. Historicamente falando, no caso do pensamento europeu, essas idéias basicamente originam-se no culto celta às cabeças. Para os celtas, a cabeça era a fonte de poder espiritual e força de vida do homem. Com ela, o poder do homem morto era transferido para quem o tivesse matado e trabalharia a seu favor. Ao segurá-la, a coragem e a bravura do guerreiro morto poderiam ser invocadas para agir como defesa contra qualquer forma de perigo sobrenatural.

Ao decorar a casa, paliçada, estaca do portão ou os portais do templo com crânios ou cabeças cortadas tanto dos inimigos do clã como dos guerreiros da tribo,a mensagem era: esse local ou área está defendido pelas almas unidas desses guerreiros mortos. A crença de que existe uma relação entre a alma da pessoa morta e a cabeça fazia com que o crânio de um antigo sacerdote ou xamã servisse freqüentemente como foco no ritual de invocação da alma de um homem morto, habitante do outro mundo. Como na vida era reconhecida como moradia do poder espiritual da pessoa viva, na morte tornava-se a casa vazia do mesmo espírito. Por meio do ritual, aquele espírito podia ser chamado para aquele objeto reconhecível a fim de ajudar e proteger os membros vivos da família, grupo ou clã do morto.

Uma das coisas que achamos difícil compreender hoje em dia é que a morte não fosse barreira entre os mundos, como é agora. Com as palavras "descanse em paz", o que estamos querendo dizer ou pedir é que a alma da pessoa permaneça em seu mundo e não atravesse para o nosso, embora para os celtas os mundos físico e psíquico estivessem interligados nesse plano. Em vez da luz e das trevas, havia um reino obscuro através do qual determinadas pessoas podiam atravessar a separação entre o mundo dos vivos e o dos mortos, trazendo informação, enquanto os mortos podiam contatar os vivos com os mesmos objetivos em mente. Dessa forma, passado e futuro podiam ser trazidos para o presente. Ao reconhecer isto, considera-se possível para a alma atravessar do outro mundo para este, o material, sob a forma de guardião ou espírito profético.

Ao reconhecer a possibilidade de contato com o bem vindo do além, não podemos nos esquecer de que o mal possui o mesmo poder. Portanto, é necessária proteção sobrenatural contra o mal sobrenatural. O culto ao crânio deveria crescer para se equiparar às necessidades espirituais de qualquer época.

Acredito que tenhamos nos afastado desses conceitos e idéias, tendendo a considerá-las fantasia e superstição primitivas. Mas o fato de termos agido dessa maneira não significa que não haja verdade nisso tudo. Muitas pessoas acreditam na imortalidade da alma, embora, ao mesmo tempo, neguem a existência de fantasmas. A idéia de que um "fantasma" é o eco de acontecimentos passados constitui uma ds teorias atuais mais comentadas. Isto ignora o reconhecimento de que, se existe alma imortal dentro de uma pessoa, essa alma deve ter o poder de retornar a um determinado local de alguma forma importante para ela em existência passada.

Neste sentido, o crânio dentro do círculo é o reconhecimento desse fato. Além disso, os ritos e rituais ligados ao crânio não são, de forma alguma, tentativa de chamar os mortos por encantamentos ou para prender aquela alma ou espírito para servir ao grupo. Qualquer contato feito com o outro lado será na base de vontade e desejo mútuo de ambos os mundos, dentro do contexto das práticas e rituais da arte.

Quero dar outro aviso. O fato de haver determinada utilidade no crânio em determinados aspectos da prática da Arte não justifica a profanação em nome da fé. Os grupos podem e realizam rituais sem ele. Alguns nnunca sequer pensaram em ter um. Quanto a isso, se houver a possibilidade e o grupo desejar obter um crânio por meios legais de fornecimento a escolas de medicina, não há razão para não fazê-lo. Mas não podemos esquecer que um grupo que usa um crânio está aberto a todos os tipos de carga.

Um dos primeiros rituais é o de limpeza do crânio realizado com e em nome dos quatro elementos: terra, ar fogo e água. Por trás desse ato está o reconhecimento de que o crânio deve ser limpo de todas as suas ligações passadas. Num sentido oculto, o crânio não está sendo usado como meio de chamar de volta a alma que o habitou, mas como meio de atrair o fantasma de uma pessoa com ligaçoes com a feitiçaria. Nesse sentido, o crânio age como uma chave para o reconhecimento de que, por um lado, o grupo está trabalhando dentro da estrutura reconhecível de "O Crânio dentro dos ritos". Por outro, os membros do grupo estão se abrindo para um contato sobre o rio do esquecimento.

Com esse objetivo, a pergunta é exatamente o que está sendo contatado ou o que está vindo. Será uma pessoa que morreu há muito tempo e que espera o renascimento ou um aspecto do Deus Cornudo, se manifestando enquanto pessoa? Esta é mais uma pergunta sem resposta. Creio que, na maioria das vezes, se trata do fantasma, espírito ou alma de alguém que já morreu e pertenceu à Fé. Acredito nisto porque, nos casos em que soube que o crânio estava sendo usado, o contato gradualmente revelou um caminho individual reconhecível. Em um deles, o contato era feminino, com nome e vida passada claramente identificável. Em outro (e nesse somente repito o que me foi revelado), era masculino e grande apreciador de mulheres e de piadas sujas, embora em ambos os casos o contato tenha se tornado real com um grande fluxo de material inspirado para trabalhos desse tipo.

Para introdução do crânio no círculo, talvez a melhor idéia seja um trabalho interno. Pela natureza passiva do rito, e sendo necessária a introdução ao movimento real, as chaves principais são a paciência e a simplicidade. No lugar do fogo no centro do círculo, é colocado o crânio entre duas velas, com todos os presentes sentados à volta e virados para o centro. Aqui começa a paciência. Nesse caso, é somente esperar pela primeira leve sensação de contato mútuo. Gradualmente isso se fortalecerá e se delineará até uma forma reconhecível e estabelecimento do sexo.

Há uma troca de idéias entre os membros, como impressões sobre o que sentem quanto à identidade do contato que emana do crânio. No final, chega-se a um nome consensualmente aceito. O crânio, então, recebe formalmente o nome, e por meio disto é trazido para o coven ou para o grupo, como um dos membros invisíveis, parte da companhia oculta.

A partir do nome, a persona do contato tende a se fortalecer e a se desenvolver em contato reconhecível, com suas artimanhas e fraquezas particulares. Assim, quando houver uma taça de vinho consagrado em um dos encontros, a prática é colocar uma libação em sua homenagem e memória. Isto é feito porque ela também é parte do grupo de trabalho.

Cerca de três ou quaro meses antes da dissolução do meu grupo, houve uma sensação gradual de que o espírito de contato estava se desprendendo do grupo. No final, sentíamos que o nosso crânio estava "vazio", e que nosso contato se mantinha firme do outro lado.

Para alguns, tudo isso parecerá fantasioso e motivo de críticas. Para ser franca, também tive dúvidas quanto ao primeiro caso. O que fiz foi sentar e esperar. Após algum tempo, comecei a sentir que havia ali mais do que supunha. Havia uma resposta definida que vinha do crânio. Para minha surpresa, não era o tipo de resposta que eu esperava. Não havia um fluxo súbito de conhecimento esotérico do que poderíamos descrever como um líder do passado contatando os novos seguidores desse lado. Era muito mais sutil do que isso e difícil de ser compreendido.

Parecia ser o eco de uma vida passada, com outro eco de outra vida. Havia um sentido de perplexidade e do porquê ela sentia o chamado do grupo. Aos poucos, quando alguns aspectos de sua natureza se tornaram conhecidos, compreendemos que o seu fantasma ou espírito estava aprisionado nela. Ela não tinha sido, naquela vida, uma seguidora da Deusa, porém, subjacente àquela memória havia uma outra, e era aquela memória de vida passada que estava respondendo, por intermédio do último renascimento e memória, e respondendo ao nosso chamado.

Em algumas ocasiões, havia a sensação distinta de que ela não queria estar ali e da falta de compreensão do porquê estava. Em outras, sentíamos a sua vontade de estar e a compreensão do que buscávamos e estávamos tentando conseguir. Nesses encontros havia a sensação da ligação com o passado e da sua lembrança que se refletia na maneira de como toda a natureza dos rituais havia muddo. Pelo menos, dois ou três de nós, a cada encontro, outros dois ou três que sentiam. No fluxo e refluxo desse contato, cada um de nós voltou com melhor compreensão, que foi muito considerada antes de ser posta em prática.

O Ritual de Purificação e Aprovação

Como já foi dito antes, em primeiro lugar o crânio deve ser limpo das influências passadas. Se for trazido para o círculo antes disso, haverá grande possibilidade de se reativar experiências traumáticas de vidas passadas, e, ao mesmo tempo, as portas ficarão abertas a todo tipo de sordidez. Pela natureza não-realizada de acontecimentos passados que emanam do crânio, as forças do caos podem e com freqüência se aproveitam e usam a abertura criada pelo crânio para fluir. Quando o caos penetra o círculo, é preciso forte ação mágica para fazê-lo retornar ao seu lugar. Por isso, de maneira alguma um crânio deve ser trazido para o círculo antes de ser limpo.

Cabe ao grupo decidir o local e o momento desse rito. Por sua natureza, prefiro o período da Lua Nova e acho que deve ser realizado como evento especial e não enquanto aproveitamento de um outro encontro. Mas isto é escolha pessoal. Como é necessário um ponto de fogo bem grande, maior do que a chama simbólica da vela usada para trabalhos internos, o lugar apropriado é um círculo externo consagrado e totalmente magnetizado. Isto é realizado com e em nome dos elementos da terra, ar, fogo e água. São escolhidos quatro membros para representá-los e participar como tal na ordem ritual correta.

Estágio 1

Se houver outros membros presentes durante o ritual, devem entrar no círculo antes e se colocar junto à borda, do lado de dentro. Entram, então, os membros que vão representar os quatro elementos. A pessoa que representa o Ar coloca o crânio perto do fogo, e o círculo é fechado. Com os representantes dos quatro elementos juntos no centro do círculo, o reto do grupo começa a "rodar o moinho' em movimento widdershins, até que o Ar sinta que pode parar, quando então, pega o crânio com a mão direita e, com a esquerda, simula tirar alguma coisa do crânio pelas narinas, enquanto diz:

Ar: "Assim como eu retiro a respiração destas narinas... assim a vida e a memória da vida passada são retiradas."

Isto é feito três vezes, usando-se as mesmas palavras. O crânio é recolocado perto do fogo. A Terra se aproxima e diz:

Terra: "Eu represento a Mãe de cujo ventre provém toda a vida... e também o lugar para o qual, com a morte, todos retornaremos... e salpicando essa terra... eu simbolizo esse retorno."

Isto é repetido três vezes e, a cada vez, um pouco de terra que foi levada para esse proósito para dentro do círculo é salpicada sobre o crânio. O Fogo, então, segura o crânio com a mão direita e o passa nas chamas com a mão esquerda, dizendo:

Fogo: "Assim como tu passaste pela sepultura e pelos fogos da purificação... Local onde ambos, passado e presente, se queimaram em ti."

Isto é feito três vezes, e o crânio é recolocado no seu lugar pelo Fogo. A Água se aproxima dizendo:

Água: "Com as águas do tempo e do perdão... Eu lavo tanto o passado como o presente... até que o renascimento te mande de volta a esse mundo para viveres uma nova vida."

Novamente isto é feito três vezes, e a cada vez um pouco de água é aspergida sobre o crânio. Aqui termina essa parte do rito.

Estágio 2

Naturalmente, o segundo estágio é o do nome. deve ficar claro que, mesmo que faça parte do rito da purificação, esse estágio pode e muitas vezes é realizado em data posterior, e geralmente ao ar livre. Como já mencionado, o crânio é trazido para o círculo traçado na forma usual para essa ocasião. De preferência, deve ser transportado por um membro do sexo masculino. É colocado entre duas velas. O restante do grupo se senta em torno e se dá as mãos, enquanto focaliza a atenção no crânio. Aos poucos as impressões começam a surgir e, se alguém tiver uma que seja bem forte e definida, deve mencioná-la. À medida que a sensação for se intensificando, surgem o nome, o estilo da vida passada e uma sensação geral sobre o contato. Num determinado momento, quando sentir que deve, a Senhora [a suma sacerdotisa ou Magistra] pega o crânio com a sua mão direita e sopra nas cavidades das narinas, dizendo:

Senhora: "Por intermédio da nossa Senhora e em seu nome... eu sopro a vida proveniente do grupo em ti... Em seu nome... que assim seja." [Obs: Senhora é um modo de se referir à Deusa, e não tem nada a ver com a "Nossa Senhora" dos cristãos. Não confunda.]

Coloca o crânio novamente no lugar e, a seguir, arruma três fios de lã colorida no topo do crânio, cruzando-os entre si:

Primeiro, o fio vermelho, símbolo do elo vermelho da vida pelo renascimento. [horizontalmente]
Segundo, o fio preto do conhecimento e símbolo do membro iniciado do coven.
[Assim: / ]
Terceiro, o fio branco da morte e do mundo além da morte.
[Formando um X com o fio anterior. O conjunto parece um X cortado horizontalmente por um travessão]

Nesse ponto, haverá uma reação sentida por todos. Se for boa, significa que foi aceito. Um pouco de vinho retirado da consagração é aspergido sobre o crânio pela Senhora [Magistra] com as palavras:

Senhora: "Em nome do (grupo, coven ou clã) e com este vinho... eu te nomeio (nome) sabendo que por meio desse crânio... tu escolheste ser chamado por nós e de boa vontade te uniste a nós para auxiliar na adoração aos Deuses Antigos... e, acima de tudo, à Deusa."

Antes de terminar o rito, todos partilham uma taça de vinho em honra do novo contato, e, mais uma vez, um pouco de vinho é aspergido sobre o crânio. Assim, o crânio recebe um nome e, aos poucos, o contato é estabelecido.

O Crânio dentro dos Rituais

A principal função do "crânio dentro dos rituais" é a de servir como acesso aos trabalhos especiais. Por seu intermédio e vindo do outro lado surgem com freqüência um clarão de iluminação e o conhecimento que, em um instante, impulsiona todo o grupo vários degraus à frente no caminho. Muitas vezes confirmam-se os objetivos e as ambições do grupo ou coven. Além disso, há novos pensamentos e idéias colocados nas mentes do grupo, que ampliam o caminho a ser trabalhado e também abrem outros. Nesse sentido, o contato espiritual se torna ou ganha atributos do sacerdote-rei orientador e líder que habita a tumba real.

Em outro aspecto, torna-se o crânio da profecia. No passado, quando era mais utilizado para isso, segurava-se o crânio com as mãos enquanto se fazia a pergunta. Se ele ficava mais leve, a resposta era "sim". Se ficasse mais pesado, a resposta era "não". Hoje, em vez de segurá-lo, coloca-se o crânio no centro do círculo de um ambiente obscurecido, dirigindo-se as perguntas ao espírito de contato. Todos os presentes colocam a mente num tipo de fluxo livre, até que as respostas comecem a chegar.

Para se rsincera, não estou muito convencida de que todas as respostas sejam enviadas pelo espírito. Pelo simples fato de várias mentes estarem buscando uma resposta por meio do contato externo, isto propicia que elas mesmas encontrem as respostas dentro delas. Qualquer que seja a origem, as respostas chegam com o tempo e, posteriormente, mostram que estavam corretas. Existe outra forma de tradição em relação ao crânio dentro da Arte, que chegou até nós por intermédio de ancestrais muito antigos, embora hoje seja utilizada muito raramente, se é que ainda o é. É o uso do crânio como totem, o símbolo animista do clã, que evoluiu gradualmente para outra forma de ritual. Por isso, e também como assunto de interesse histórico, devo descrevê-lo.

Desde os tempos pré-históricos, tem havido o reconhecimento do elo mágico entre o caçador e sua vítima. Foram encontrados vários exemplos desse elo, desde as famosas pinturas rupestres da máscara de veado, do Deus coberto de hera ou do mago na Caverne des Trois Frères, em Arège, até as pilhas ritualísticas de ossos de animais escondidas no fundo das cavernas. Crescendo nesse conceito de harmonia mágica entre caça e caçador, passando por determinados rituais mágicos, o passo seguinte seria o reconhecimeto gradual por parte do clã ou da tribo do animal envolvido: urso, bisão, veado ou qualquer outro. Entrelaçado com o conceito do ritual para uma caçada proveitosa veio o reconhecimento de que a fertilidade das espécies caçadas era de importância primordial. Se elas não procriassem, significaria a fome para a tribo.

O tempo trouxe mudanças. Não havia mais rituais realizados no fundo das cavernas, mas ao ar livre, dentro do círculo. Como parte do ritual, a agora familiar estaca das Bruxas era montada como porta de acesso ao círculo. No lugar da estaca em forquilha que conhecemos, havia um mastro reto com um crânio do animal totêmico fincado na extremidade. Embora a vida tenha mudado da sobrevivência que dependia das caçadas para as atividades agrícola e pastoril, no ciclo da natureza e na fertilidade dos campos, o culto ao Deus Cornudo e a Deusa Grávida ainda tem garantindo o seu lugar.

Nessa fé havia ainda o conceito do sacrifício animal como agradecimento aos deuses guardiãos dos rebanhos e manadas e, acima de tudo, à Deusa Mãe da terra. Na verdade, parte do animal sacrificado era consagrada aos deuses e queimada no fogo sagrado. O resto era cozido e comido depois pelo grupo. Era festa sagrada, partilhada pelos deuses e pelo povo. O que tinha sido praticado dentro das cavernas era realizado agora ao ar livre, com envolvimento maior do grupo ou clã nos rituais. Mesmo que as circunstâncias e o estilo de vida tenham mudado, o conceito de fertilidade permanece o mesmo. mudando apenas na aparência externa. Em vez de boa caçada, orava-se por boa colheita.

À medida que o conceito da Deusa e dos Deuses Antigos tomava forma mais humana, a natureza do sacrifício também mudava.
ssim como a vida se tornava mais complexa e organizada, expandia-se a visão sobre os deuses. Em vez do sacrifício animal, surgia o conceito do mensageiro humano. Deuses e Deusa ganhando caráter mais humano podiam ser contatados por um ser humano, essa alma levando as preces e os pedidos da tribo. Desenvolvido paralelamente ao conceito de mensageiro dos deuses, e com o mesmo objetivo de força e bem-estar para a tribo, surgiu o sacrifício do Rei Divino, em que a força da tribo era fixada em uma pessoa não por direito de nascimento ou de herança, mas por seleção. Enquanto o rei fosse forte e vigoroso, assim seria a tribo. Sacrificado em seu apogeu, o rei tornava-se companheiro dos deuses pelo bem da tribo.

Posteriormente esse conceito foi modificado, e o sacrifício voltou mais uma vez a ser animal, com o que surgiu o conceito muito interessante de bode expiatório. O infeliz aniaml, portador de todos os males e pecados da comunidade, deveria levá-los diante dos deuses junto com a sua vida, como símbolo de expiação e pagamento para libertação_ uma vida substituindo a do rei.

Com esse conceito da possibilidade de transferir doenças e pecados para um animal a ser sacrificado e, ao mesmo tempo como lembrança do sacrifício do Rei Divino, o Mestre [Sumo Sacerdote/ Magister] detém os poderes de um líder, e deve pagar um preço por esses poderes.

Durante sete anos, pelas graças da Senhora [Suma Sacerdotisa/ Magistra], o Mestre lidera o coven. No final do sétimo ano, o preço dessa regra é transferido para o "Carneiro Real". A vida do carneiro é oferecida à Deusa, substituindo a do Mestre. As partes sagradas são oferecidas ao fogo sagrado, e as outras são utilizadas nas festas sagradas. A cabeça do carneiro sacrificado é queimada ao lado da "Ponte entre os Dois Mundos". Por essa razão, o avental algumas vezes usado pelo Mestre como parte doas seus paramentos, como no caso dos utilizados por outros membros, simboliza nada mais do que o avental do açougueiro.

Hoje em dia não há mais necessidade do sacrifício. Ele foi substituído pelo juramento do ofício feito e confirmado pela Senhora e pelos quatro oficiantes a cada sete anos. Entretanto, podemos ocasionalmente achar um grupo que marca a sua porta de entrada para o círculo com uma cabeça queimada de carneiro como lembrança do espírito-totem animista do clã. Da mesma maneira, a estaca ou mastro em forquilhae o símbolo do jovem Deus Cornudo das florestas e da caça, aquele que permanece entre o coven e a Mãe, a Deusa.

[Aqui termina o texto de EJJ e Doreen Valiente.]

É interessante comparar isso com o que Gardner diz sobre o carneiro.

O que Gardner diz sobre o carneiro

Livro: O Significado da Bruxaria
Autor: Gerald Gardner

Se houvesse o abate de animais durante esses festivais provavelmente serviam a propósitos mundanos, como alimentação, e as fogueiras serviram para cozinhar; porque nenhum encontro de bruxas era, ou é, uma comemoração completa sem alguma espécie de refeição festiva. Quando as pessoas vinham de longas distâncias para esse ponto de encontro, elas desejavam uma refeição substancial, e a carne e as bebidas faziam parte da atração do sabá das bruxas. A Igreja tentou dispersar essa atração perigosa divulgando a história de que a carne e a bebida das bruxas na verdade continham todos os tipos de substâncias horríveis e asquerosas a fim de fazer com que o sabá parecesse repulsivo, para que as pessoas não mais desejassem freqüentá-lo. Porém, a monstruosidade dessa história frustra o seu propósito; porque quem sairia de sua cama aconchegante, à noite, e percorreria longas distâncias pelo adorável prazer de comer imundícies e beijar o tergo de um bode? As pessoas comuns iam aos sabás das bruxas por uma razão natural e compreensível, porque elas viviam bons momentos ali.

Creio que seja importante ressaltar que, embora a maioria das ilustrações nos trabalhos dos oponentes à bruxaria pareçam, à primeira vista, ser trabalhos da fantasia e da imaginação, se não da loucura, ao analisar vários deles com uma bruxa, ambos percebemos que vários aspectos estavam corretos.

Na verdade, era como se o homem que tivesse feito o desenho tivesse estado presente e visto algo que ele não havia compreendido, ou possivelmente tivesse conversado com alguém que havia visto. (Obviamente ele devia ter estado presente nos julgamentos.)

Não posso falar sobre a maioria desses assuntos. Porém, devo mencionar isso. No princípio, eu ficava intrigado com o grande número dessas figuras que mostravam esqueletos de animais, com alguns fragmentos de carne ainda neles. Eles são geralmente retratados como se ainda estivessem vivos e se mexendo. Eu pensava que a intenção fosse simplesmente produzir um quadro horrível até o dia em que presenciei uma festa de bruxaria em um bosque; quando um carneiro inteiro foi "assado" em uma fogueira (e estava muito bom). Foi assado por inteiro, em um enorme espeto de ferro, e, quando pronto, a carne foi destrinchada. Foi uma visão estranha, com as chamas iluminando as árvores, e subitamente vi os contornos do carneiro através da fogueira, suas costelas descobertas, os ossos das quatro patas voltadas para baixo. A luz oscilante da fogueira e a fumaça davam a impressão de que ele se movia como se estivesse vivo, exatamente como mostravam os antigos "quadros de bruxaria", com exceção de que este não tinha cabeça, e é provável que nos tempos antigos eles o assavam sem tirar a cabeça.

[Aqui termina o texto de Gardner]

Se esse carneiro era um Carneiro Real ou não, só as Bruxas que o assaram saberiam dizer.

O Velho Simon

Livro: Enciclopédia da Bruxaria
Autora: Doreen Valiente.

Quando o Sabá tem que acontecer em lugares fechados, o ritual é modificado conforme a necessidade. Então há geralmente um pequeno altar no centro do círculo. Esse altar deve ter fogo e água sobre ele, de alguma forma, e as bruxas de tradições mais antigas às vezes incluem um crânio e ossos cruzados, ou uma representação deles.

Esse é um símbolo da morte e da ressurreição e, portanto, da imortalidade. Ele é às vezes chamdo de "Velho Simon".

Existe uma crença cristã muito curiosa e antiga de que enquanto restassem um crânio e dois ossos das pernas de um homem, isso seria suficiente para assegurar-lhe um lugar na ressurreição geral do Último Dia. Essa crença pode muito bem ter sido originada do verdadeiro simbolismo do emblema do crânio e dos ossos cruzados. As fraternidades maçônicas também fazem uso do crânio e dos ossos cruzados em suas cerimônias, que descendem, se não na verdde derivaram, dos antigos cultos dos Mistérios.

Pessoas de fora podem considerar esse emblema algo terrível e cruel, principalmente quando visto sob a luz de velas em uma sala escura. Entretanto, os procedimentos na maioria dos Sabás de que participei eram alegres e espontâneos. Eles são reponsáveis por algumas de minhas lembranças mais alegres.

[Aqui termina o texto de Doreen]

O Crânio no Altar: Modo de Usar

Livro: "Witchcraft: A Mystery Tradition"
Autor: Raven Grimassi
p. 110
Um dos mais malentendidos objetos que aparecem na Bruxaria é o crânio. Para muitas pessoas este é uma presença perturbadora, e significa morte. Entretanto, na Tradição dos Mistérios o crânio significa conhecimento e sabedoria. Essencialmente, o crânio representa o que resta da experiência de vida de alguém. Nesse sentido, ele representa o que nossos ancestrais sabiam e passaram adiante para as gerações futuras.
Os ossos cruzados representam guarda. Eles formam a figura de um X, o que simboliza o poder sobre o reino da morte.Na arte antiga o X aparece nos tronos de deidades associadas com o Mundo Inferior, e entre o seu simbolismo geral. De muitas maneiras eles simbolizam o mesmo que as espadas cruzadas, que denotam uma iramandade ou ordem secreta. No contexto da última, o crânio representa o conhecimento preservado da ordem.
Muitos comentadores sugeriram que entre os Celtas a prática da caça de cabeças tinha sua raiz em uma tradição espiritual (em oposição a uma de pegar troféus de guerra). Se nós olharmos para o fato de que o crânio retém conhecimento, então remover a cabeça vai proteger esse conhecimento de deixar o corpo com a morte. Há muitos contos celtas associados com o crânio, e com crânios específicos como o do herói Bran o Abençoado.
No conto de Bran, ele instrui seus homens de que após sua morte eles deverão cortar sua cabeça e enterrá-la no lugar onde hoje é Londres. Bran diz que isso irá proteger os Bretões de serem conquistados por invasores. A implicação aqui é que há algo do poder e do espírito de Bran que permanece no crânio.
O tema de reter o espírito ancestral aparece através da Europa Continental e as Ilhas Britânicas. Na Europa setentrional ela aparece no que é chamado o Culto ao Crânio.

Uma representação de um crânio humano é colocada entre as imagens das deidades. Isso simboliza o conhecimento e sabedoria de nossos ancestrais preservados e passados adiante nos Mistérios. Uma vela preta é colocada no topo do crânio e acesa para os rituais realizados do Euinócio de Outono até o Equinócio de Primavera. Uma vela vermelha é usada do Equinócio de Primavera até o Equinócio de Outono. Preto simboliza o conhecimento ancestral retido em sua fonte, o Outro Mundo. Vermelho simboliza o conhecimento ancestral que flui do Outro Mundo ao mundo dos mortais.

Durante o correr do ano a cor da vela do crânio vai fazer par tanto com a vela da Deusa como com a vela do Deus. Preto representa o reino secreto das sombras, a profunda floresta escura, e a jornada mística que leva ao Outro Mundo. O Deus que escolta os mortos e que auxilia na transição. Cernunnos é um exemplo desse aspecto do Deus.

Vermelho representa o sangue da vida, a pulsação interna que sustenta e dá poder. Relacionado à Deusa, ele corre através da terra debaixo do solo, pois ela é a doadora da vida. Vermelho simboliza o lugar da vida e da renovação, o que se reflete no ciclo menstrual. No contexto da figura do crânio, o vermelho simboliza o conhecimento antigo fluindo da fonte de onde eles brotam.

Na frente do crânio um caldeirãozinho é colocado. Este representa o Portal da Lua [Moon Gate], que é o útero da Deusa. Através da Deusa todas as coisas nascem do Outro Mundo e a ela retornam novamente. Então o caldeirão conduz de e para o conhecimento ancestral. Por causa disso ele contém a essência mágica da transformação.

[Aqui termina o texto do Grimassi]

O Culto de Orfeu

Livro: Mitos e Tarôs
Autoras: Dicta e Françoise

Segundo se pensa, o primeiro culto [de Orfeu] consistia em envolver uma cabeça, verdadeira ou falsa, com um pano [de linho] ou pedaço de pele, cobrindo apenas o crânio, como se fizesse para ele uma veste; depois, embalar, acariciar esse corpo figurado, até que, pela boca do sacerdote mágico, a cabeça começasse a falar, a profetizar.


(Autoria de Nadia Bertolazzi. Obrigado Nádia ;])








Sapos na bruxaria

“Fui até o sapo que vive sob o muro, Eu o encontrei e ele veio ao meu chamado.”
(Masque of Queens, de Ben Jonson)


Dentro do imaginário popular, seja nos contos de fadas, na arte lúdica, ou na superstição, sapos, magia e bruxas estão bastante ligados. É fácil reconhecer isto nas famosas lendas de príncipes que se tornam sapos por meio dos encantamentos de uma bruxa, ou nas imagens e retratações feitas por artistas durante a Idade Média, onde a figura da bruxa muitas vezes era encontrada junto de sapos. Como é sabido dentro dos meios Tradicionais da Arte, as lendas, contos populares e superstições guardam resquícios de costumes mágicos antigos, e este ensaio tem a intenção de explanar sobre as associações mágicas existentes no sapo, e sua importância para a chamada Bruxaria Tradicional.

O sapo é um anfíbio que vive em ambientes úmidos, principalmente pela necessidade de seus ovos e girinos. Existem cerca de 4.800 espécies de sapos, e estes se distinguem das rãs pelas membranas interdigitais menos desenvolvidas e pela pele mais seca e rugosa. Quase todos os sapos da família Bufonidae tem duas glândulas na parte de trás da cabeça. Em estado de irritação ou medo, estes sapos liberam substâncias venenosas destas glândulas. Estas substâncias, chamadas de bufotoxinas são psicoativas, em maior ou menor escala, dependendo da espécie do sapo, por isso, eles são chamados de “Sapos Psicoativos”. O Sapo do Rio Colorado (Bufo alvarius) contém as bufotoxinas 5-MeO-DMT e bufotenina, enquanto as outras espécies contém apenas a bufotenina. Ambas são substâncias classificadas como “Triptaminas Alucinógenas”, que podem causar efeitos alucinógenos quando a pele ou veneno do sapo são fumados ou assimilados pela língua. Ao contrário da crença popular, o veneno dos sapos não causa verrugas. Em algumas tradições Xamânicas das Américas, eram usadas combinações destes venenos para se alcançar comunhão com o Mundo Espiritual e para a transcendência do Xamã. Na Europa, as bruxas também se utilizavam de bufotenina, assim como de ervas e fungos alucinógenos, para entrarem em comunhão com o Senhor Chifrudo e seguirem para o Verdadeiro Sabbat, que é o Local de Poder no Outro Mundo, onde ocorre o Congresso com o Espírito, ao invés da concepção moderna de Rito Sazonal.

“No século XVI, os círculos bruxos do noroeste da Espanha utilizavam o sangue do sapo para confeccionar seus ungüentos de vôo. Em 1525 Maria de Ituren confessou ter digerido um ungüento de vôo a partir de pele de sapo e tanchagem, sem dúvida misturados em uma base oleosa. As bruxas suecas fabricavam os seus ungüentos com gordura de sapo, saliva de serpente e plantas venenosas. Os covens alemães têm a reputação de fritar os sapos para preparar tais ungüentos. Os ungüentos a base de gordura de sapos eram também utilizados pelas bruxas húngaras e do Leste da Europa para chegar ao êxtases do “vôo pelo espírito”.” [1] O Sapo tem há muito tempo uma conexão com o Mistério, os Segredos e os Poderes Noturnos. São animais reservados, que aparecem somente durante a noite, e sempre ligados a ambientes aquáticos e úmidos; o sapo habita tanto na terra como na água, passando de um ambiente para o outro confortavelmente, o que o torna um ser associado ao “trânsito entre os mundos” , e ligando-o como mensageiro entre a terra e o submundo. É interessante notar como até mesmo esta idéia, do sapo como guardião dos mundos, está presente em lendas e contos antigos e modernos; um exemplo disto é o recente filme O Labirinto do Fauno de Guillermo del Toro, onde um grande sapo que habita em uma árvore é o guardião da chave para o Reino Subterrâneo, e a personagem Ofélia só consegue adquirir tal chave após destruir o sapo, uma clara referência à Ordália. Também por habitar em regiões pantanosas, o sapo é especialmente sagrado para as deidades ctônicas, mais uma associando-o ao mundo inferior.

Os artistas da Idade Média retratavam os sapos em ligação com o Diabo, e por sua vez como Animais Familiares das Bruxas. É interessante notar que, dentro de muitas das irmandades e sectos de Bruxaria Tradicional, tanto os sapos, como as serpentes e dragões são os seres diretamente ligados ao Diabo, uma das muitas máscaras do Senhor Chifrudo das Bruxas, e ele por muitas vezes aparecia no Sabbat se utilizando da forma de um desses seres. As bruxas também tomavam a forma de animais para irem ao Sabbat, e uma das formas mais comuns era a do sapo. Assim como os Xamãs americanos, elas se transfiguravam nos animais para seus ritos, e novamente aqui vemos o autentico uso dos enteógenos[2] para tal ato sagrado. Como descrito pelo Ocultista Nigel A. Jackson, o símbolo do Diabo pela tradição heráldica medieval, consistia em três sapos sobre o brasão, o que afirmava a ligação com os poderes do mundo abaixo. As bruxas bascas eram marcadas com o sinal conhecido como “Pé de Sapo” , pelo Diabo. Encontramos em Gypsy Sorcery and Fortune Telling de Charles G. Leland, a referência de uma Associação de Feiticeiros da Espanha, em 1610, onde a pessoa que era admitida nesta Ordem recebia uma marca em forma de sapo sobre sua pálpebra e que um sapo de verdade lhe era dado como Familiar, conferindo-lhe poderes como o da invisibilidade, mudança para a forma de animais variados e o poder de se transportar para lugares distantes. Até o fim do século XIX, no Oeste da Inglaterra, havia uma tradição de Magia Popular Medicinal, das quais seus praticantes, conhecidos como Toad Doctors (Médicos-Sapos) acreditavam na cura de diversas doenças, inclusive e mais propriamente aquelas causadas por feitiçaria, por meio do uso de um fetiche feito com a perna de um sapo vivo dentro de um saquinho de musselina e o pendurando em torno do pescoço da pessoa doente.

No Leste da Inglaterra, principalmente no condado de Essex, há uma tradição mágica de bruxos solitários conhecidos como Toad-Witches (Bruxos-Sapos). O folclore, mantido até os dias de hoje, reza que há um rito solitário que visa a obtenção de poderes mágicos, mais propriamente o poder de dominar as bestas e animais e destes especialmente o Cavalo, que é conferido por meio de um amuleto feito do osso de um sapo. É dito que este amuleto, o Toad-Bone Charm (Fetiche-de-Osso-de-Sapo), pode servir como uma chave em todos os assuntos concernentes da Arte Sábia. O rito de obtenção deste amuleto é considerado dentro da Bruxaria Tradicional, como uma Iniciação Solitária e Vertical. Ao contrário da tão afamada “auto-iniciação” onde a pessoa faz um ritual e se considera um Iniciado, a Iniciação Solitária depende de diversos sinais e provações para ser concluída, e se tais sinais não forem dados, o ritual não é concluído e não há Iniciação. Dentro dos costumes dos Toad-Witches, aquele que busca a Iniciação deve procurar um tipo específico de sapo, sacrifica-lo com um espinho de blackthorn (Prunus spinosa) , e deixar sua carne ser comida pelas formigas para se obter apenas os ossos. Estes ossos são então ser recolhidos e jogados em uma corrente de água, e apenas um osso deve voltar para as mãos do praticante, em meio a vários fenômenos naturais que tem por objetivo amedrontar e tirar a atenção do mesmo. Se o osso do sapo não voltar o rito não foi bem sucedido, caso o osso retorne para suas mãos, então ele pode prosseguir nas outras etapas do rito, as quais culminarão no encontro com o Diabo e a Iniciação em si. O próprio sacrifício do sapo em si já é a primeira das provações para saber se o rito poderá ou não ser feito pelo praticante. É dito que somente se pode prosseguir neste Mistério se o modo do sacrifício for revelado por sinais e presságios; é dito ainda que, caso nenhum presságio for recebido, sabe-se que o rito não deve ser feito, e prosseguir é ser amaldiçoado [3].

As referências mais antigas do uso dos Toad-Bone Charms aparecem na História Natural de Plínio, em aproximadamente 77 d.C. Os poderes atribuídos por Plínio ao Osso de Sapo, entre os quais o de domar animais, seduzir, favorecer o amor e causar a discórdia, são os mesmos do rito inglês. Vemos aqui claramente um indício da antiguidade de tal Mistério. Plínio também descreveu como proteger magicamente as colheitas das tempestades, colocando um sapo em um pote e enterrando-o nos campos. As referências de Plínio são repetidas por Agrippa em seu Filosofia Oculta, escrito aproximadamente em 1509 e publicado na Alemanha em 1531. Scot, em Discoverie of Witchcraft, 1584, também cita o uso do osso de sapo como um amuleto de bruxaria, onde novamente a carne do sapo é devorada por formigas e o osso usados para se produzir prodígios mágicos, para o bem e para o mal. Segundo a magia medieval, para tornar-se amado, deve-se colocar um sapo morto num recipiente de barro, cheio de furos, e colocar este recipiente no topo de um formigueiro. Depois que as formigas consumirem toda a carne, deve-se moer o osso até virar pó e mistura-lo com sangue de morcego, e então jogar este pó na comida e bebida da pessoa de quem se deseja o amor. O pó dos ossos de sapos também era utilizado na magia medieval para a abertura de portas e cadeados trancados.



De acordo com Andrew D. Chumbley, o falecido Magister da Cultus Sabbati, o sapo mais indicado para o Mistério dos Toad-Witches na Inglaterra seria o Natterjack Toad (Bufo calamita). Este é um sapo difícil de ser encontrado e que vive no meio da areia.

No Brasil, temos uma espécie de sapo muito interessante, e que é especialmente sagrado dentro das manifestações mágicas da Irmandade de Bruxaria Tradicional Via Vera Cruz. Este sapo é conhecido pelo nome científico Bufo crucifer. Como um sapo da família Bufonidae ele contém a Bufotenina e é encontrado em florestas densas, rios, pântanos de água doce, jardins rurais e florestas antigas. Infelizmente é um sapo que está ameaçado pela perda de habitat natural. Ele é especialmente sagrado por carregar em suas costas uma mancha na forma semelhante de uma cruz – daí seu nome crucifer, “o que carrega a cruz”. Neste contexto, ele serve como um elo entre céu e inferno. Além do extenso uso do osso de sapo na Bruxaria, há também uma pedra especial, chamada de Pedra-de-Sapo ou crepaudina, encontrada na cabeça dos sapos, dotada de poderes ditos mágicos. Nigel Jackson cita que tal pedra cura todas as picadas e mordidas de animais e que, colocada sobre um anel, a pedra empalidece quando na presença de venenos. Em “As You Like It”, Shakespeare faz uma referência à crepaudina: “O sapo hediondo e venenoso tem em sua cabeça uma pedra preciosa”. É dito também que tal pedra protege aquele que a usa como amuleto de qualquer tipo de malefício e feitiçaria. Entre os ciganos Rom, o Diabo normalmente aparece sob a forma de um sapo ou rã, e seu nome é “Beng”, que em Romani significa “como uma Rã”. Para os ciganos da Romênia, a Rainha das Fadas vive sob a aparência de um Sapo de Ouro. O Sapo é também associado às deidades obscuras bruxas Hécate e Lilith, ambas as deidades relacionadas com a Rainha de Elphame dentro do contexto da Arte Sábia. Outra ligação do sapo com o Reino das Fadas, e por sua vez com a Rainha de Elphame e com o Diabo, encontra-se na antiga palavra italiana “fata”, que significava tanto sapo quanto fada. Para a Bruxaria Italiana encontrada na Florença, como exposta por Charles G. Leland, Diana é a “Rainha das Fadas” e um de seus animais sagrados é o sapo. O sapo também é ligado ao conceito de fertilidade. Para os antigos egípcios, ele era o animal sacro de Hekat, a deusa da fertilidade e encontramos nas práticas do coven de Auldearne, em 1662, uma prática mágica curiosa para atrair a fertilidade para os campos, onde um sapo puxava um arado pela terra enquanto os bruxos clamavam ao Diabo pela fertilidade da Terra. O Sapo é o Animal Familiar da Bruxa, que lhe dá a chave para o Submundo e lhe confere o Congresso com o Diabo, Mestre Chifrudo do Sabbat. Ele é o Guardião dos Mundos, é o bruxo e é também o próprio Diabo. A ligação entre os sapos e as bruxas são muito mais reais e próximas do que apenas o imaginário popular.



“Você pode andar pelo caminho,
Você pode falar as palavras,
Mas você pode Encantar o Cavalo?”


Possam a Bênção, a Maldição e a Sabedoria lhe serem conferidas pelo Sapo da Encruzilhada.


Nota biográfica: Draku Qayin é o Escriba e Convocador da Irmandade da Arte Sábia Via Vera Cruz. Atualmente está escrevendo um livro sobre Bruxaria Tradicional, onde além de outros temas ligados à Arte, ele também abordará os Mistérios dos Homens Sapos.

[1] – Jackson, Nigel A. – “Call of the Horned Piper”, Capall Bann Publishing.

[2] – Enteógeno ou enteogénico é um neologismo que vem do inglês: entheogen ou entheogenic, tendo sido proposto no ano de 1973 por investigadores, como sendo o termo apropriado para descrever estados xamânicos ou de possessão extática induzidas pela ingestão de substâncias alteradoras da consciência.

[3] – Mais informações sobre este Mistério podem ser encontradas no “One: The Grimoire of the Golden Toad” de Andrew D. Chumbley, publicado pela Xoanon Publishing.

Nota: Tanto o autor quanto a revista ‘O Caldeirão’ não se responsabilizam e nem incentivam o uso das substâncias citadas neste ensaio.
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Imagens:
1 - Bufo crucifer (Pedro Crapaud - Sapo de estimação do autor)
2 - O Brasão do Diabo de Nigel A. Jackson
3 - One: Grimoire of the Golden Toad de Andrew Chumbley - edição Iniciática