quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sacrifícios

Minha postagem vai ser enorme, peguem um cafezinho ou chá e relaxem. rs

Falando por mim, ou seja, opinião pessoal e intransferível, sem imposições ou desejo de que concordem comigo digo:

Os sacrifícios de qualquer espécie, pra mim, são práticas válidas, fundamentadas e muitas vezes necessárias aos mais diferentes ritos. Só que, tais ritos não fazem parte da liturgia da Wicca, logo, para esta religião e dentro do seu corpo de crenças os sacrifícios são desnecessários e não devem ser praticados - mesmo que o sacerdote concorde e veja lógica na prática, pois é uma regra baseada nas crenças da religião que o sacrifício de sangue não é necessário, talvez fosse nas eras primitivas, mas, dentro do pensamento religioso wiccano não é mais necessário. Ponto passivo.

Uma coisa é não praticar ou ver necessidade de tal ato de acordo com nossas crenças pessoais, outra coisa é impor ou ofender de alguma forma as pessoas de outras crenças só porque para nós não faz sentido. E isso vale para quem concorda e para quem discorda das práticas de sacrifícios de sangue.

Precisamos aceitar que cada pessoa, independente de suas religiões ou crenças, enxerga o ciclo de vida, morte e renascimento de uma forma, cada pessoa tem o direito de possuir valores morais e culturais diferentes. Quando o assunto é sacrifício várias coisas estão intimamente ligadas para a aceitação dessas práticas e na grande maioria das vezes o que nos faz concordar ou não com tais atos sequer tem relação com o entendimento religioso e funcional que temos deles, mas normalmente, o que interfere em nossas opiniões são nossa criação e cultura, que nos impõe valores diferenciados em relação ao ato levar à morte e o que ele representa em nosso íntimo.

Eu posso parecer soberba, malvada, egoísta entre outras coisas para alguns pelo simples fato de acreditar e vivenciar, ou seja, saber que sou capaz de criar e destruir e que tal capacidade, em minha opinião, quando controlada e utilizada dentro de minhas convicções religiosas é a maneira que possuo de me elevar espiritualmente e exaltar minha divindade como parte viva e necessária deste universo.

Para mim e dentro de minhas crenças usar uma planta ou um animal num rito é a mesma coisa, não tenho patamares de valor entre a vida de um animal e de uma planta, isso, claro, considerando-se o uso da planta em sua totalidade. Mas, assim como é raro eu precisar matar uma planta inteira, também é raro eu precisar matar um animal. Porém isso não muda o fato de que quando eu retiro partes das plantas para queimar, triturar ou enfeitar para uso ritual, eu estou agredindo e retirando uma parte viva e necessária àquele ser e como as plantas não gritam, ao menos com sons audíveis a nós humanos, eu não sei se lhes causo dor, mas sinceramente, acredito que sim.

E porque eu continuo usando as plantas? Porque elas são necessárias pra mim e para o meu culto. As energias que elas desprendem alimentam meu corpo energético e os Deuses, Ancestrais, Guardiões e etc. que eu cultuo ou coexisto religiosamente. Assim como uso partes de uma planta, que é um ser vivo, também usaria a planta inteira ou um animal se fosse preciso, inclusive um animal que amasse como os meus gatos. Tudo ia depender do propósito, do entendimento e da necessidade que eu tivesse para agir de tal forma.

O sofrimento que eu viesse a causar ou ter (porque sacrificar também implica em enfrentar sombras e sentimentos pessoais) seria de responsabilidade única e exclusiva minha, e como bruxa, sacerdotisa, mulher e religiosa que sou iria assumir qualquer tipo de problema que isso acarretasse desde que o meu objetivo fosse alcançado. Nisso alguém poderia dizer; então você é disposta a qualquer coisa para conseguir seus objetivos? Sim, sou. Só que, antes de ser desmerecida por isso, lembro que todo objetivo que se cria em minha mente ou em meu culto é pautado em crenças, cultura e acima de tudo, na minha ética e honra. Logo, todos os meus objetivos são coisas que eu considero úteis e com valor perante minhas crenças e cultura.

Eu não acredito em pecados, punições ou julgamentos, para mim, se um sacerdote de minha tradição assassinar alguém isso não é um pecado, considero errado e não faria o mesmo que ele, mas pra mim não é um pecado e não é motivo para que eu o ataque ou diminua. A escolha foi dele, a ação foi dele e se de fato os Deuses não permitissem tal coisa ele não conseguiria fazê-lo, mas se faz é porque permitem. Quando morrer ele vai viver entre pessoas que tomaram escolhas parecidas com as dele - outros assassinos, e caberá somente a ele aprender se isso lhe agrada ou não. (Isso é uma crença pós-morte nossa, não generalizem)

Talvez não tenha conseguido ser clara com o que quis expressar com essa hipótese, mas apenas estou tentando mostrar que as crenças das diversas religiões pagãs são muito diferentes e que o que pra um pode ser errado, para outro pode ser certo. E ainda que eu entenda e aceite o sacrifício de outros seres - plantas, animais e etc., tenho várias ressalvas porque não sei os verdadeiros motivos que levam as pessoas a fazê-los e não sei que tipo de entendimento as pessoas possuem sobre aquilo, portanto não recrimino, mas também não apoio, pois eu sei o que faço e o que meus irmãos de tradição fazem. Com estes eu concordo, mas com as outras religiões e práticas, que eu não faço parte ou entendo eu prefiro me manter calada, pois não posso julgar algo que não conheço.

Enfim, eu não tenho nada contra sacrifícios, sejam eles com sangue, seiva ou qualquer outro fluído vital. Eu pratico sacrifícios diversos, considero o meu esforço para manter meu culto e ensinar meus irmãos inexperientes um dos maiores sacrifícios que faço, rs, no culto uso plantas, sêmem, sangue meu ou de outro ser, urina, saliva, seiva, e várias outras coisas que saem de seres vivos, até porque ao meu ver tudo é vivo e sagrado. Nunca cheguei a sacrificar um animal especificamente para um ritual, mas já participei de tais rituais sem problema e minha avó criava galinhas, alimentava, dava nomes, fazia até carinho nelas e quando tinha casamentos, batismos ou coisa do tipo lá na casa dela, ela matava uma ou duas de suas galinhas para alimentar a família. Eu achava isso totalmente natural, porque ela também arrancava a alface e outras plantas e fatiava-as para comer. Todos os seres são vivos e sagrados pra mim, e todos também são capazes de gerar vida ou morte. Até as plantinhas podem matar, basta que sejam venenosas ou que você tenha alergia.

“Só há vida através da morte e morte através da vida” Essa é minha crença, absolutamente ninguém é obrigado a segui-la ou concordar com ela, mas precisam respeitá-la, pois é um direito que todas as pessoas possuem: ter suas crenças respeitadas.

Ao expressar minha opinião, argumentando através de minhas crenças, quis apenas mostrar que nós pagãos, possuímos crenças diferentes e que precisamos aprender a nos respeitar.

É isso. Abraços,

Dayne Anglius.

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